Publicado em 08/03/2017
Uma profissão construída por mulheres desde o seu surgimento. Como a questão do gênero contribui para a imagem do Serviço Social? Se o machismo opera em nossa sociedade, ele também se vê refletido dentro da profissão? E o movimento feminista, como pode dialogar com as e os assistentes sociais?
Essas são algumas das indagações feitas à assistente social, professora da UERN, militante e pesquisadora feminista, Mirla Cisne, em entrevista exclusiva ao CRESS-MG, em função do Dia das Mulheres. A entrevistada é também autora do livro “Gênero, divisão sexual do trabalho e Serviço Social”, Ed. Outras Expressões (2012).
1.O Serviço Social é uma profissão composta majoritariamente por mulheres, ou seja, uma profissão construída por mulheres. Como isso reflete no projeto ético e político?
O problema não reside em ser majoritariamente composto por mulheres e sim, ser considerado uma profissão feminina e como tal, sermos cobradas para corresponder a “qualidades” consideradas “naturalmente” femininas para ser uma assistente social, como a sensibilidade, a capacidade de acolhimento, a bondade, etc. Isso contribui para a construção de um perfil vocacional e não profissional. Tal perspectiva vocacional nos desvaloriza como trabalhadoras especializadas, com formação de competência profissional.
Outra preocupação é que esse sentido vocacional se agrega à uma perspectiva conservadora e moralizante – tal qual o perfil das pioneiras do Serviço Social –, que responsabiliza as mulheres individualmente pelas expressões da questão social, contrariando o perfil de profissionais críticas/os defendido pelo nosso projeto ético-político.
2. E quais as implicações sociais desta ser uma “profissão feminina”?
A principal implicação é a desvalorização e os baixos salários, típicos das profissão consideradas femininas. Aqui, é importante perceber que nos inserimos não apenas na divisão social e técnica do trabalho, mas, também, na divisão sexual do trabalho. Nesta divisão, o trabalho é separado segundo o sexo, de forma hierárquica, ou seja, os trabalhos e atividades consideradas femininas são desvalorizados e se concentram no campo da reprodução social, e os considerados masculinos são mais valorizados e se concentram mais na esfera da produção direta do valor.
O peso de uma história patriarcal em nosso país, que desvaloriza e violenta de formas múltiplas as mulheres, obviamente, reflete numa profissão considerada feminina, em termos da subalternidade e desvalorização. Como mulheres, trazemos em nossa história, marcas dessas violências, de explorações e opressões. Por isso, entendemos que a luta feminista é fundamental para a renovação e valorização da nossa profissão.
3. No mercado de trabalho de uma sociedade patriarcal, como a nossa, homens ganham mais e ocupam cargos mais altos que mulheres com o mesmo nível de instrução. Como você observa isso no Serviço Social?
Observo que embora em minoria, muitos homens ocupam cargos de chefia, gerência e estão em número representativo (considerando o percentual de que são apenas em torno de 3%) na docência e na produção de conhecimento. Isso também é reflexo da divisão sexual do trabalho; os homens possuem mais tempo livre, não têm o peso das jornadas intensivas, extensivas e intermitentes de trabalho, como nos alerta Maria Betânia Ávila, daí, possuem mais condição de produzir conhecimento, por exemplo. Cargos de chefia e gerência também são mais associados aos homens, considerados, pela cultura patriarcal, lideranças e “naturalmente” nossos representantes.
4. Tendo em vista que as mulheres também são maioria do público usuário, se fazem necessárias reflexões sobre as questões de gênero. Através de que viés isso pode ser feito?
As mulheres são em maioria o nosso público usuário não é à toa ou por coincidência. Da mesma forma que a nossa categoria é majoritariamente feminina, nosso público usuário também o é porque historicamente somos não apenas responsabilizadas pela questão social, como somos as mais atingidas por ela.
Segundo Mészáros, somos 70% das pessoas pobres do mundo. Estamos nas estatísticas de destaque em termos da precarização da vida e do trabalho, destacadamente as mulheres negras. Ou seja, a classe trabalhadora tem fortemente a marca de sexo e raça. Assim, é indispensável uma análise feminista sobre a nossa categoria e público usuário, não apenas para desnaturalizar as violências, opressões e explorações que vivemos, mas, para combatê-las e não reproduzi-las.
Digo não reproduzi-las porque, por vezes, sabemos de práticas profissionais que além de não considerar a condição de opressão das mulheres, ainda criminaliza e/ou responsabiliza de forma moralizante as mulheres pelas expressões da questão social. Essa postura precisa ser superada, e é esse o convite do nosso projeto ético-político para a defesa da liberdade e da igualdade na diversidade, lutando contra todas as opressões e explorações. Para tanto, considero indispensável a incorporação do feminismo na formação e no exercício profissional, bem como as nossas entidades continuarem articuladas às lutas do movimento feminista para o fortalecimento do nosso projeto profissional.
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