Assistente social na atenção à pessoa com doença falciforme

Publicado em 15/06/2015

Alteração genética que afeta o sangue, a doença falciforme, diagnosticada pela triagem neonatal, é a doença hereditária mais comum no Brasil e atinge um a cada 1.400 nascidos vivos em Minas Gerais. Originada na África e espalhada pelo mundo a partir da migração forçada de escravos, ela alcança principalmente a população negra, mais atingida pelo racismo institucional. Esse aspecto, associado à evolução muitas vezes grave da doença, tende a dificultar o acesso da pessoa com doença falciforme à educação, trabalho, moradia e serviços de saúde, o que a torna vulnerável não apenas do ponto de vista clínico, mas também social.

Dados da Associação de Pessoas com Doença Falciforme e Talassemia do Estado de Minas Gerais (Dreminas) mostram que, no estado, 95% das pessoas com doença falciforme são negras, 98% são beneficiárias do Bolsa Família do Governo Federal e 93% não concluíram o Ensino Fundamental. “As famílias e pessoas com doença falciforme, em sua maioria, são de baixa renda e/ou não tem tanto acesso ao ambiente escolar e ao mercado de trabalho, devido às peculiaridades da doença que exigem diversas internações, consultas e exames frequentes”, ressalta a assistente social da Dreminas, Paula Maia.

Neste cenário, o assistente social assume importância fundamental na atenção à pessoa com doença falciforme. Profissional responsável por acompanhar a dinâmica social do indivíduo e orientá-lo para garantir os direitos ligados à saúde, habitação, educação e emprego, entre outros, o assistente social deve trabalhar pela autonomia do sujeito. “Fazemos a leitura crítica da realidade da pessoa. Queremos o empoderamento, a emancipação do sujeito social”, diz a assistente social do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad), Graziela Maria.

Funções diversas

Segundo Graziela, que atua no Centro de Educação e Apoio Social do Nupad (Ceaps), cabe ao profissional do Serviço Social, nas mais diversas esferas de trabalho, intervir nas manifestações provocadas pela questão social. No caso da doença falciforme, é preciso dar visibilidade às consequências que ela provoca não apenas na saúde, mas em todos os âmbitos da vida da pessoa e de sua família: “É comum que haja demandas que necessitem da intervenção de outras políticas públicas”.

É o que conta Paula Maia. Ela cita, por exemplo, a atuação do assistente social para garantir às pessoas acompanhadas pela Dreminas o acesso aos benefícios sociais e tratamento de forma adequada. “Temos muita demanda sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC), oferecido à idosos, pessoas com deficiência ou doença crônica que não podem prover o próprio sustento. Neste caso, orientamos e agendamos a perícia. Também, orientamos sobre as dificuldades de se marcar exames e consultas especializadas”, explica.

Ainda, para Sirley Rodrigues, assistente social do Setor de Controle do Tratamento do Nupad (SCT), setor responsável por lidar diretamente com o munícipio e fortalecer o vínculo entre paciente e atenção básica, o trabalho referente à pessoa com doença falciforme objetiva a regularidade do tratamento: “Recebemos muitas demandas relativas a não adesão ao tratamento. Crianças que, por vários motivos, não comparecem às consultas, seja por negligência familiar, resistência ao tratamento ou questões de vulnerabilidade social”. Desta forma, segundo ela, é preciso identificar junto às equipes de saúde dos municípios as estratégias de intervenção e buscar o fortalecimento das redes de atenção, para uma maior integração entre os serviços de saúde e assistência social.

Enconoticiantro Mineiro de Assistentes Sociais

Diante desta realidade e com a proposta de fortalecer a rede de atenção à pessoa com doença falciforme a partir da atuação do assistente social de diferentes setores, o Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG), parceria entre Nupad e Fundação Hemominas, promove o 1º Encontro Mineiro de Assistentes Sociais – Doença Falciforme: Linha de Cuidados, nos dias 19 e 20 de junho, no Hotel Dayrell, em Belo Horizonte. São esperados cerca de 500 participantes, entre assistentes sociais dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Previdência Social e da Atenção Primária à Saúde do estado (confira no Saiba Mais).

Durante o Encontro serão abordados a epidemiologia, fisiopatologia e principais manifestações clínicas da doença falciforme, atenção integral, previdência social, racismo institucional, atuação do assistente social na rede assistencial e vivência das famílias e pessoas com doença falciforme. “Queremos provocar a discussão para que os profissionais possam se manifestar, revelar angústias e sugestões sobre o trabalho de atenção à pessoa com doença falciforme”, pontua Graziela.

Segundo ela, é comum que os assistentes sociais, devido à falta de conhecimento sobre a doença e diante das demandas de uma pessoa neste perfil, acabem encaminhando o atendido somente para os serviços de saúde. Daí a importância de saber qual a contribuição estes profissionais, não apenas da saúde, mas da assistência e previdência social, poderão oferecer à rede ao compreender a doença falciforme e as implicações que ela tem sobre os aspectos sociais desta pessoa e família.

Para a pediatra e coordenadora do evento, Ana Paula Pinheiro, o Encontro será, portanto, uma oportunidade de melhorar a qualidade da assistência: “Queremos conhecer melhor a atuação do assistente social na rede de cuidados da doença falciforme e contar com ele como mais uma força de trabalho”.

As inscrições para o evento tem o valor de R$50,00 e vão até o dia 7 de junho. Mais informações no site do evento.

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