Publicado em 30/12/2013
É com imensa alegria que concluímos mais um ano de muito trabalho e lutas em defesa da efetivação do projeto ético-político profissional, que tem como direção a luta por uma sociedade emancipada. Reafirmamos o nosso compromisso com as lutas em defesa das necessidades e interesses coletivos da classe trabalhadora, em especial com as/os trabalhadoras/es desta categoria profissional, sem deixar de reconhecer que, no tempo presente, é hegemônico o projeto societário do capital, fundado na desigualdade social e na reprodução permanente da exploração do trabalho e de múltiplas formas de opressão na vida cotidiana.
Neste contexto regressivo de crise estrutural do capital, a classe trabalhadora reage, a exemplo das manifestações ocorridas no país em 2013, que se gestaram, sobretudo, contra o aumento de tarifas dos transportes coletivos, os altos recursos investidos para sediar a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, a defesa da educação, da saúde e contra a corrupção. Expressamos nosso apoio às mobilizações, bem como nosso repúdio à criminalização dos movimentos sociais e à violência e truculência policial, o que buscou reprimir o legítimo direito de organização e manifestação da população brasileira.
As manifestações colocam tarefas para a esquerda, tais como: disputar a direção política de tais mobilizações, em meio à heterogeneidade dos movimentos e a posturas de rejeição aos partidos políticos e organizações; a análise do papel das redes sociais, com todas as suas contradições, ao socializarem informações que a grande mídia não divulga e que podem ser utilizadas a nosso favor. Essas questões já foram discutidas no 3º Seminário Nacional de Comunicação do Conjunto CFESS-CRESS, realizado em setembro de 2013.
Neste contexto sócio-histórico, que nos exige capacidade reflexiva para análises profundas da realidade e definição de ações críticas, acreditamos que, mais do que nunca, é tempo de organizar a resistência e avançar na luta em defesa de uma sociedade fundada na emancipação humana. É tempo de afirmar que a luta coletiva permanece com imenso sentido. É tempo de dizer que podemos construir alternativas à barbárie. É necessário disseminar que a esperança real emerge da vontade coletiva, organizada contra o cotidiano de exploração do trabalho e de banalização da vida humana.
Defendemos um projeto profissional, no âmbito do Serviço Social brasileiro, que afirma princípios ético-políticos, valores e direção social radicalmente contrários à lógica da sociabilidade capitalista. São mais de 30 anos de construção desse projeto profissional, que traz as marcas e particularidades de diferentes gerações de profissionais que ousam instituir, no cotidiano, estratégias de luta e de resistência, que nos possibilitam afirmar que, apesar dos tempos sombrios de regressão dos direitos, a realidade é contraditória, aberta à dinâmica da luta de classes e à disputa de projetos societários e profissionais.
Cientes disso é que reafirmamos o compromisso do CFESS com a luta em defesa da formação com qualidade e do trabalho profissional com direitos. Compreendemos ser imprescindível continuar em articulação com os Conselhos Regionais e com as representações da ABEPSS e da ENESSO no GT Trabalho e Formação, no processo de implementação do Plano de Lutas em Defesa do Trabalho e da Formação e contra a Precarização do Ensino Superior, com especial destaque para a luta que afirma a incompatibilidade entre o ensino de graduação à distância e o Serviço Social, a luta por trabalho com direitos e condições técnicas e éticas, sobressaindo-se a continuidade das estratégias político-jurídicas em defesa da garantia das 30 horas de jornada semanal sem redução salarial e por concurso público.
Estamos no final de mais uma gestão do CFESS, a gestão Tempo de Luta e Resistência, que se encerra em maio de 2014. Neste período, foram muitos os desafios enfrentados no cotidiano de nossa luta. Destacamos alguns que permanecem na nossa agenda política, convocando-nos a uma inserção qualificada e ousada. Entendendo que as ações precípuas do Conjunto CFESS-CRESS, com destaque para a fiscalização e a ética profissionais, devem ser compreendidas em uma concepção de totalidade:
Nestas ações, reafirmamos nossa luta e resistência às faces do capitalismo contemporâneo que invade todas as dimensões da vida social. É tempo de luta e resistência, que se expressa na nossa luta por políticas públicas de caráter universal; na defesa intransigente dos direitos humanos; no compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população; na articulação com os movimentos sociais, tendo como horizonte a luta por uma sociedade justa, liberta de explorações e opressões.
Que sigamos nesta construção coletiva com muita democracia, pluralismo, reafirmação dos princípios ético-políticos que fundamentam o projeto profissional do Serviço Social brasileiro e compromisso com a continuidade do nosso processo coletivo de organização.
Esperamos contar com a participação da nossa categoria no processo de sucessão das gestões do Conjunto CFESS-CRESS, que já foi deflagrado. A articulação de chapas, a votação, o apoio a projetos políticos críticos significam, neste momento histórico, a reafirmação da direção social do projeto profissional edificado desde a Virada.
Os/as assistentes sociais brasileiros/as possuem um patrimônio organizativo que nos coloca em destaque em relação às demais profissões. Trabalhamos contra a fragmentação entre quem pensa e quem faz, entre a academia e a prática. Há mais de 30 anos, buscamos romper com esta concepção mistificadora e fragmentada da totalidade e criamos estratégias de, reconhecendo a natureza distinta de nossas organizações, mantermos nossa unidade política em torno de um projeto profissional compartilhado. Somos mais fortes se nos juntarmos e criarmos mediações comuns, no interior da própria categoria, assim como com as demais organizações/movimentos que comungam do projeto societário que coloca a liberdade e a democracia como valor ético central.
Nossa articulação com os movimentos sociais, que se constitui em uma marca significativa dessa gestão do CFESS, teve dois pontos altos: a tribuna livre, realizada em abril de 2013, que marcou a adesão de movimentos sociais e entidades aliadas à Campanha de Gestão do Conjunto CFESS-CRESS; e o ato público Sem movimento não há liberdade – luta e resistência contra a repressão ontem e hoje, realizado no 14º CBAS, e que contou com a presença de diversos movimentos aliados e deu política, samba e poesia.
Para relembrar nosso participativo, democrático e belo CBAS, brindamos 2013 com uma poesia que nos foi presenteada por um companheiro de luta, no ato público do congresso, e expressa a aliança do Serviço Social brasileiro com o projeto emancipatório da classe trabalhadora:
Que os cantos e sonhos
repousados em Lindóia
irrompam, tal qual rebentam as águas
que superem as travas (…)
Que confrontem as balas, silenciem fuzis
Que dê vida a “Amarildos” dos diversos Brasis
Onde uma amada, beijada N’outra amada feliz
Goze a força da luta sepultando imbecis!
Nademos, pois a corrente do livre
Sobre os “Belos Montes” de um cárcere
Que o trabalho ainda vive
A corrente arregace!
Social, um serviço de vida a batalha é cumprida…
Só até que ela passe, eis a luta de classe!
Essa rompe um sistema – capital e maldade
E por isso cantemos:
“Se não tem movimento não terá liberdade!”
(Autor: Atnágoras Lopes – CSP-Conlutas)
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