Suspensão do Centro de Difusão de Comunismo da Ufop traz prejuízos à comunidade
Publicado em 14/03/2014
É proibido pensar diferente. Há sete meses, o Centro de Difusão do Comunismo da Universidade Federal de Ouro Preto foi suspenso por uma decisão judicial que alegava ser este um projeto acadêmico com objetivos político-partidários.
O CRESS-MG saiu em defesa do CDC desde o início, ciente que o Centro se trata de um programa de extensão vinculado ao curso de Serviço Social da Ufop e que tem o objetivo de organizar e oferecer atividades gratuitas a comunidade da cidade de Mariana e região.
Desde a determinação da justiça, em agosto de 2013, todas as atividades educativas e formativas estão suspensas e aguardam resposta judicial de uma contestação elaborada em conjunto com a Procuradoria Federal.
Enquanto isso, dezenas de pessoas que se beneficiavam dos cursos e grupos de trabalho oferecidos pelo CDC estão sendo prejudicas, e esse é um dos assuntos que comenta o coordenador do programa e professor de Serviço Social da universidade, André Mayer, em entrevista concedida ao CRESS-MG.
O professor explica que os objetivos do centro, que existe desde 2012, são claros, públicos e notórios e consistem em estudar, debater e realizar a critica à ordem do capital e lutar por uma sociedade para além do capital, envolvendo ações de ensino, pesquisa e extensão.
1. Quais são as atividades realizadas pelo CDC?
Um dos projetos que compõem as atividades do CDC é a Liga dos Comunistas – Núcleo de Estudos Marxistas, grupo de estudo e pesquisa vinculado ao Diretório de Pesquisa CNPQ e junto com o Curso de Extensão – Relações Sociais na Ordem do Capital formam o embrião do Centro. A eles vieram se juntar, em seguida, o Curso de Extensão – Mineração e Exploração dos Trabalhadores, na região da Ufop, e o Projeto – Equipe Rosa Luxemburgo que é o Grupo de Apoio aos Trabalhadores.
Ou seja, o CDC contempla as dimensões de ensino, pesquisa e extensão próprias de uma Universidade Federal, segundo orientação e exigência do MEC – de forma gratuita, aberta a toda comunidade e realizadas duas vezes ao ano, no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas, em Mariana, com editais no início de cada semestre.
2. De que forma essa decisão judicial influencia na luta promovida pela Ufop, em defesa dos trabalhadores locais?
A “comunidade” trabalhadora, a “classe trabalhadora”, quer saber a que se destina a universidade. Essa é uma boa pergunta: a que se destina a universidade? A universidade ajuda a consolidar o processo de exploração sobre aqueles que trabalham. A universidade, lamentavelmente, serve aos interesses do capital contra os trabalhadores. E a relação subserviente da Ufop com as mineradoras, há séculos, é um exemplo cabal!
Inicialmente o Curso de Extensão foi idealizado em parceria com o Sindicato Metabase Inconfidentes de Mariana para ser gratuito e abordar o tema “Mineração, exploração dos trabalhadores e do meio ambiente na região de Mariana e Ouro Preto”. A ideia sempre foi a de disponibilizar para a comunidade do entorno da universidade, um curso de extensão gratuito, que ofereça uma formação sólida sobre os processos que envolvem a mineração, os impactos sobre a vida dos trabalhadores e do meio ambiente.
Todos os que trabalham nas mineradoras são explorados, dia após dia, semana após semana, mês a mês. A vida do trabalhador da mineração é um constante tormento de trabalho! Na ordem do capital todo trabalho é um tormento. O curso tem 32h e é realizado duas vezes ao ano, segundo os seguintes módulos: o movimento sindical internacional e o Sindicato Metabase Inconfidentes; a mineração e os impactos nas comunidades locais; Vale 70 anos – História, presente e perspectivas?; e a crise econômica mundial e as lutas sociais.
3. O que essa suspensão traz de experiência para aqueles que acreditam em uma sociedade diferente?
O CDC é o único programa de extensão na Ufop que faz a crítica radical à ordem do capital e a defesa da classe trabalhadora, que é a quem a universidade deveria estar voltada, mas não é isso que acontece, ao contrário: 95% do que é produzido na universidade (em todas as áreas) serve para manter e proteger esse modelo de sociedade. O mais grave, é que não se trata de uma ação individual e sim coletiva. Um gigantesco processo fruto da alienação e da naturalização das relações sociais próprias à ordem do capital.
Lembrando que o Programa iniciou suas atividades em março de 2012 e até a suspensão em agosto de 2013 conseguimos iniciar e realizar todos os nossos cursos e projetos. Além disso, fizemos três “Calouradas Vermelhas” com temas variados e com a participação significativa de alunos e professores.
Agora, se por um lado a imprensa “burguesa” e a ação judicial caluniam e emperram o trabalho do CDC-Ufop, por outro, ao nos mantendo firmes na defesa do Programa, alcançamos visibilidade nacional juntos aos movimentos sociais e nas universidades federais. Mesmo com a suspensão, conseguimos centenas de apoiadores e várias ações estão sendo realizadas no sentindo de continuar a “difusão do comunismo”.
Relembre: