Grito das ruas – Mauro Iasi e Bia Abramides comentam os atuais protestos no Brasil

Publicado em 21/06/2013

"A população foi chamada para ter um comportamento passivo: votar nas eleições, ir para casa e deixar o governo fazer sua governabilidade sem a pressão popular. Isso gera um caldo que a gente poderia identificar como uma despolitização dos movimentos sociais e é natural que o movimento que agora emerja, venha como reflexo dessa despolitização. É natural a heterogeneidade dele e que ele não tenha rumo claro nesse primeiro momento, ainda que demonstre nítida e enfaticamente essa insatisfação."
 
Este é o trecho da entrevista que o historiador e doutor em Sociologia, Mauro Iasi, deu para a UFRJ, onde é professor do curso de Serviço Social, fazendo uma breve análise conjuntural da onda de protestos ocorridos em todo o país, nesta semana. Veja abaixo a entrevista.
 
 
A professora do Curso de Serviço Social PUC-SP, Bia Abramides, também analisou o atual momento. Confira o texto a seguir.
 
Mobilizações de massas – Redução das tarifas de transportes e descontentamento generalizado
 
As grandes mobilizações de massa impulsionadas pela juventude que tomaram as ruas do país na luta pela redução da tarifa dos transportes- a partir do Movimento Passe Livre-MPL-nas últimas duas semanas- expressam ainda um descontentamento generalizado mediante o custo de vida que se amplia com trabalhadores e movimento popular nas ruas. A polícia respondeu com a truculência da ditadura militar e os governos do PSDB com reacionarismo e do PT com autoritarismo e burocratismo acompanhados do coro da grande mídia que lançava a pecha de arruaceiros e vândalos sobre as manifestações da juventude, visando criminalizar as ações de massa. 
 
Após a brutal repressão de quinta-feira dia 13 em São Paulo recuaram e tentam de forma reacionária impor a ideia de nacionalismo, patriotismo e apartidarismo. Sabemos que o movimento de massas é heterogênea, difuso, mas há um sentimento generalizado de descontentamento. A esquerda revolucionária neste momento deve fazer frente única e disputar, politizar esse processo. As bandeiras vermelhas da esquerda são um legado para o processo de lutas. Grande parte da juventude pós ditadura sequer tem consciência do significado da esquerda para a luta e parte se desiludiu com o que poderia ser o PT e que hoje é o partido da ordem. 
Como diziam Marx e Engels as ideias dominantes de uma dada época são as ideias da classe dominate, que penetram os póros de grande parte da população que expressa ideologias conservadoras, reacionárias que aparecem nas ruas contra as bandeiras de partidos de esquerda, de lutadores, apresentando reivindicações conservadoras. 
 
De outro lado parte da esquerda (PT) capitulou e representa os interesses dos banqueiros , do capital internacional. Lenin nos falava da paciência histórica, não podemos nos retirar da luta. Vamos levantar nossas bandeiras,vermelhas avante camaradas! 
 
A ação direta coloca em cheque as instituições, o estado a serviço do capital e o capitalismo, mas sabemos também que a falta de direção política democrática e de lutas esvazia a própria mobilização ou expressa uma força reacionária no interior do movimento. 
 
É necessário que as direções do movimento expressem suas posições e as assembleias de base pautadas na democracia operária fortaleçam um programa democrático com as forças políticas ativas no movimento. 
 
Os gastos com a Copa de 28 bilhões em detrimento dos gastos com a educação, saúde, transporte, habitação, reforma agrária estão sendo denunciados, repudiados. A população pobre parou avenidas no Grajaú dia 18 e 19/06 na Anchieta, Taboão da Serra, M Boi Mirim e outros bairros das periferias de São Paulo, reivindicando redução imediata da tarifa cujo aumento representa em torno de 25% a 30% do salário mínimo de fome de $678,00 reais com transporte, o que evidencia que 0,20 de aumento é abusivo para a população pobre da cidade, se colocando ainda contra os gastos fabulosos com a Copa em detrimento dos direitos sociais, na luta pela saúde, educação, transporte públicos de qualidade e habitação. 
 
Entre ontem e hoje 20/06/13,cerca de 12 prefeitos de capitais e cidades do interior já recuaram e reduziram o preço do transporte. Mais de 100 cidades em todo o país fizeram mobilizações de rua e bloqueio de estradas no dia de hoje, 20/06 e chegaram a quase um milhão de pessoas de norte a sul do país. nas ruas. 
 
A rede Globo e grande parte da imprensa vem ao ar para enfatizar de que as mobilizações devem ser apartidárias para minar, neutralizar a possibilidade de politização das massas para a luta anticapitalista. Em muitas cidades a truculência da polícia imperou e resultaram muitos feridos por bombas de borrachas. As mobilizações devem continuar e sem dúvida a esquerda necessita unificar-se em uma frente única classista, anticapitalista, socialista. São os sem terra que lutam por reforma agrária, os indígenas pela demarcação de terras, os sem teto por habitação, a luta pela saúde , transporte e educação públicos estatizados. 
 
Chega de chacinas e criminalização aos movimentos sociais. Retomar a bandeira da estatização sem indenização às empresas privadas de transportes, esse é o nosso papel como revolucionários, socialistas. Coloca-se claramente a luta pela extinção imediata da PM, um resquício da ditadura ainda aí presente. Precisamos combater o nacionalismo, a despolitização, a xenofobia, o irracionalismo, o individualismo e todas as mazelas da decomposição do capitalismo. É necessãrio ampliar ainda mais a participação do trabalhadores e população pobre em geral nas lutas e estabelecendo um programa claro de lutas:
 
– Revogação imediata do aumento das tarifas em todo o país
– Estatização sem indenização do sistema de transporte
– Passe livre para estudantes e desempregados
– Abaixo a repressão! Fim das prisões
– Nenhum processo político contra os lutadores
– Escala móvel de salário
– Salário mínimo vital de 4.000 reais para uma família de quatropessoas
– Saúde, educação e transporte públicos, gratuitos, de qualidadepara tod@s
 
Com reivindicações claras, com mobilização, organização, politização e direção, podemos avançar para um patamar de luta contra a opressão social e exploração do capital.

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