Publicado em 11/11/2024
Entre 17 e 18 de outubro, aconteceu, em Belo Horizonte, a segunda edição do Seminário Regional “Serviço Social, história, lutas e compromissos” promovido pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) em parceria com a PUC Minas e que teve como tema central “Do ‘Método BH’ ao ‘Congresso da Virada’: a construção do legado crítico profissional e sua atualidade”.
O evento, gratuito e presencial, incluiu minicursos simultâneos, sessões de apresentação de trabalhos e duas conferências. Entre as palestrantes, tivemos as professoras Ana Elizabete Mota (UFPE), Antoniana Defilippo (UFF), Maria Rosângela Batistoni (Unifesp) e Maria Inês Bravo (UFRJ). A atividade teve o apoio do CRESS-MG e o financiamento parcial da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), o que foi comentado por um dos organizadores, o professor da Unimontes, Diego Tabosa.
‘’É importante disputar recursos como este, a fim de construir ações de formação permanente e de educação continuada no horizonte do nosso projeto ético-político crítico. É um desafio, mas também um posicionamento político: fincar o pé, não arredar, disputar em todos os momentos e espaços e construir estratégias para valorizar e difundir a nossa profissão! O Serviço Social mineiro é forte e isso precisa ser sentido pelos órgãos e agências financiadoras de pesquisa”, avalia.
Do Método BH ao Congresso da Virada
O tema central do evento faz alusão ao movimento que revolucionou a profissão das e dos assistentes sociais e que foi iniciado na capital mineira: o chamado “Método BH”, assim como faz menção ao Congresso da Virada que ocorreu há 45 anos, quando se deu o chamado “3º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais”, entre 23 e 28 de setembro de 1979, na cidade de São Paulo.
A importância desses dois acontecimentos está principalmente na consolidação teórico-prática do Projeto Ético-político na história do curso de Serviço Social, e assim, na formação de futuras e futuros profissionais. Na mesa de encerramento, as professoras Ana Elizabete Mota (Uerj) e Maria Inês Bravo (UFRJ) fizeram um apanhado histórico da profissão e uma reflexão do que podemos esperar das novas formas de exploração do capitalismo e do avanço do conservadorismo.
A questão racial no Serviço Social
Também no segundo dia, ocorreu a palestra de André Correa, mestre em Serviço Social pela UFRJ e integrante do Comitê Paranaense de Assistentes Sociais no Combate ao Racismo, que abordou “A agenda antirracista do Serviço Social brasileiro e as construções coletivas na afirmação do projeto ético-político”. O convidado apresentou um histórico de como a pauta racial vem sendo abordada na profissão desde o seu início, além de trazer diversas referências de autoras, autores e conteúdos para contribuir com o resgate e valorização dessa pauta.
Alguns nomes foram destacados pelo profissional, como a autora do primeiro artigo de Serviço Social que trata sobre a pauta racial, Maria de Lourdes Vale Nascimento, assim como os estudiosos Clóvis Steiger de Assis Moura, Petrônio José Domingues (UFS) e mais atualmente, nomes que valem a pena conhecer mais a fundo, como Gracyelle Costa Ferreira (Uerj) e o mineiro Tales Fornazier (Unifesp). André provocou ainda, a reflexão de como o mito da democracia racial se apresenta e se apresentou no Serviço Social e pontuou que não é possível analisar a profissão sem considerar o chão histórico de seu nascimento.
Afirmou ainda que a representatividade sem conteúdo é vazia e muito fácil de ser capturada por uma agenda regressiva e conservadora. Para não cair em armadilha, esse debate deve ser feito, considera o estudioso. “Existe uma apropriação dessa luta, pois ela não é homogênea. Racismo, relações étnico-raciais ou qualquer agenda anti-opressão: nenhuma delas é homogênea. A questão é saber a direção do debate a seguir: é uma direção crítica, das desigualdades e de superação delas ou é uma direção do ponto de vista da superação daquilo que determina esse lugar das desigualdades?“, observa.
Já na mesa principal, Maria Inês Bravo trouxe um panorama histórico do Serviço Social, abordando tópicos como a volta da democracia, nos anos 1980, quando as entidades representativas da categoria passaram a se articular e a temática da assistência passa a ganhar importância, assim como trouxe, também, os impactos da contexto socioeconômico e político dos anos 2000 na profissão.
Sua análise de conjuntura terminou citando a colega de profissão, Marilda Iamamoto. “Mais do que nunca é preciso ter coragem e esperança para enfrentar o presente. É necessário resistir e sonhar. Temos que alimentar sonhos e concretizá-los dia a dia no horizonte de novos tempos mais humanos, mais justos e solidários.”
Já Ana Elizabete Mota fez várias provocações afirmando que a atual dinâmica da extrema direita, da peleja de resistência de alguns setores da esquerda, do enfrentamento da cultura ultra-conservadora tem expressões objetivas e subjetivas. “A coisa que mais me espanta, hoje, é a capilaridade que essa ofensiva do grande capital, mediada por uma cultura neo-fascista e pelo ultra neo-liberalismo, onde o mercado é o dono e senhor de tudo, tem capilaridade junto às classes subalternas. Isso é muito sério e absolutamente novo”, refletiu.
Novos ciclos
Munidos de elementos para pensar o cenário atual, os membros da organização do evento, os professores Diego Tabosa (Unimontes) e Waldeir Eustáquio (PUC-MG) agradeceram às muitas inscrições de profissionais e estudantes. Além disso, foram feitos agradecimentos especiais às e aos palestrantes, facilitadores e colaboradores, com menções pessoais a integrantes da organização e às e aos estudantes da Unimontes que apoiaram o Seminário, fortalecendo o comprometimento com a docência e a profissão.
Waldeir, em sua fala, destacou a parceria com o CRESS-MG e o apoio das professoras, professores e estudantes da PUC, além de ter vocalizado sobre o desejo de resgatar a relevância da universidade nos debates da profissão e a importância de continuar lutando contra os desafios e conservadorismo crescente em Belo Horizonte. Dessa forma, reafirmou o compromisso do CRESS e das instituições de ensino organizadoras, com a promoção de espaços de reflexão e fortalecimento do Serviço Social no Brasil.
Já Diego comentou que realizar eventos baseado em marcos importantes para a profissão é uma forma de delimitar um período histórico. “Estamos falando de ciclos que se fecham, mas que abrem fendas no tempo, que deixam sementes na mesma terra que enterra momentos. Entre vida e morte, nascer e se por, começar e terminar, tem sempre o recomeçar! É sempre emocionante pensar que fazemos parte de um projeto que é grande, que é anterior a nós e que temos a responsabilidade de sustentar!”, avalia, emocionado pelo evento realizado.
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