Por preconceito, pessoas transgêneras têm mais dificuldade de encontrar trabalho, o que aumenta a marginalização dessa população

Publicado em 10/02/2023

Há duas semanas, no dia 29 de janeiro, foi comemorado o Dia da Visibilidade Trans no Brasil, e mesmo com as questões de gênero sendo mais debatidas hoje em dia, a realidade de grupos de minorias políticas ainda é desconhecida para grande parte das brasileiras e brasileiros. E no que diz respeito ao cotidiano e as experiências vividas por essa comunidade trans que engloba pessoas transsexuais, transgêneras e travestis, o cenário é ainda mais ignorado.

Quando falamos sobre as vivências desse grupo, é comum pensarmos primeiramente sobre suas relações afetivo-sexuais e, muitas vezes, limitarmos essas pessoas a esse âmbito da vida. Porém, suas experiências amorosas estão longe de ser o único aspecto atravessado por preconceitos e vulnerabilidades. Para além disso, esses sujeitos encaram inúmeros desafios ao ir atrás de seus projetos, sonhos e carreira profissional.

O Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec) realizou no ano passado o primeiro mapeamento de pessoas trans no município de São Paulo, trazendo dados sobre o trabalho e as violências físicas, verbais e psicológicas vivenciadas por essa população. No que tange à ocupação profissional, 58% da comunidade realiza alguma atividade remunerada, entretanto, em sua maioria, essas atividades são informais ou autônomas, temporárias ou sem contrato de trabalho.

Quando se faz um recorte de gênero, a situação é ainda mais marcante. Os homens trans representam 49% dos ocupados com emprego formal e carteira de trabalho assinada, enquanto que 62% das mulheres trans e travestis e 72% vivem de “bicos”, situação que gera instabilidade para a garantia do sustento. Além disso, 90% dessas mulheres se declaram profissionais do sexo, acompanhantes ou garotas de programas, sendo essas suas principais fontes de renda.

Alguns fatores explicam a alta taxa de desemprego ou de ocupações informais vindo da comunidade trans. Além do preconceito estruturado na sociedade, o que cria barreiras para que empresas não deem prioridade para essas pessoas, a baixa escolaridade e a falta de formação técnica contribuem para o cenário. Segundo o mapeamento, 42% das mulheres trans possuem formação técnica qualificada, e apenas 36% das travestis possuem o mesmo.

Obstáculos 

Mesmo os dados mapeados sendo da cidade de São Paulo, a realidade em outros estados e grandes municípios do país não é muito diferente. A assistente social e  coordenadora do Centro de Referência LGBT da Prefeitura de Belo Horizonte, Walkiria Mazzeto, em entrevista para o CRESS, atende diariamente a população LGBTQIAP+ e diz não se lembrar de qual foi a última vez que recebeu, no local, uma pessoa trans com ensino superior.

“Nosso maior problema hoje, com a população trans, é a baixa escolaridade e a baixa qualificação profissional. Por conta das altas estatísticas de evasão escolar, a maioria chega aqui com ensino fundamental ou médio incompleto.” E quando a escolaridade não é um problema, outros gargalos aparecem, como a retificação do nome social na carteira de trabalho, e a falta de sensibilização dentro das empresas para gerar um ambiente que não seja hostil para esses sujeitos.

Outro ponto de destaque para a baixa empregabilidade de pessoas trans é a falta de oportunidade, mesmo quando possuem formação técnica. Walkiria relata que algumas empresas e instituições possuem programa de diversidade e procuram o Centro para firmar parcerias e contratar essa população, por exemplo a Hering, a C&A e a Hermes Pardini, porém ela observa que muitas não contratam pessoas trans de forma genuína.

“O que a gente percebe, não tem estudo ou estatística, essa é nossa percepção, é que quando chegam esses períodos próximos de datas comemorativas, algumas empresas querem surfar na onda da diversidade, fazem uma grande campanha midiática, mas abrem algumas vagas, contratam dois ou três transexuais e batem umas fotos para colocar nas rede social”, pontua.

Os desafios não terminam com a contratação, pois é necessário sensibilizar funcionários cisgêneros para receber essas pessoas transgêneras no ambiente de trabalho. A ausência de pessoas trans dentro do mercado formal aumenta o estigma e o preconceito, além de invisibilizar ainda mais essa população, sendo que para as travestis e mulheres trans a realidade é ainda mais dura.

O Dia da Visibilidade Trans deve ir além de ações superficiais e marqueteiras. Para a assistente social Walkiria, a melhoria de vida dessa população, que perpassa por ter uma fonte de renda, se dá a partir do fortalecimento de políticas públicas que incentivem a qualificação e a preparação dessa população para o mercado de trabalho. É também no trabalho que pessoas trans podem ganhar confiança de ser quem são.

Texto elaborado pela estagiária da Ascom CRESS-MG, sob supervisão.

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