Assistentes sociais negras e negros dão o tom no Encontro Nacional CFESS-CRESS

Publicado em 04/10/2022

Logo mais é 20 de novembro e os temas sobre raça e igualdade passam a ser destaque em todo canto: mídia, escolas, empresas… É essencial abordar estes assuntos, mas tratar dessa pauta apenas no Dia da Consciência Negra não é suficiente, e o Serviço Social brasileiro tem se dado conta disso cada vez mais.

Com uma categoria profissional formada majoritariamente por mulheres negras – e segundo dados recentes, 46% de todas e todos os profissionais se autodeclaram negra – , a igualdade racial e o antirracismo devem ser bandeiras de luta defendidas e colocadas em prática no cotidiano e nos debates pelo aprimoramento e defesa dos direitos das e dos assistentes sociais.

No principal espaço de decisão do Serviço Social brasileiro, o 49º Encontro Nacional CFESS-CRESS, realizado de 8 a 11 de setembro, em Maceió (AL), a pauta racial permeou vários eixos de discussão, com falas poderosas, de profissionais de todo o país, e que levaram, por exemplo, à garantia das cotas raciais na composição das chapas que concorrerão às eleições do Conjunto.

Cotas raciais no Conjunto CFESS-CRESS

A medida deverá ser implementada até 2025 e inclui nas cotas, indígenas, população LGBTQIA+ e pessoas com deficiência. Segundo o assistente social Maicom Marques, professor do curso de Serviço Social da Uemg/Cláudio e base da delegação que representou Minas Gerais no evento, a conquista reflete o posicionamento de uma categoria profissional que traz na pele e na vivência cotidiana as marcas do racismo estrutural.

Para organizar o debate, é comum, nestes momentos, limitar o número de pessoas que irá falar e o tempo para se exporem. Entretanto, nesta mesa, a postura adotada pelo coletivo ali presente foi de escuta, o que fez toda a diferença para a decisão final. “Este posicionamento foi muito positivo, uma vez que o que foi colocado pelas e pelos assistentes sociais negros está entalado na garganta há muitos anos”, pontua Maicom.

“É preciso que a população negra, que a categoria profissional negra tenha espaço de fala, tenha voz, tenha condição de escrever e contar sua própria história. Não se pode mais deixar que outros falem por nós ou que contem a nossa história. Não precisamos de interlocutores, precisamos assumir o papel de protagonistas da nossa luta e da nossa história”, completa o professor. Sobre as cotas dentro do CFESS-CRESS, ele avalia como urgentes e alinhadas ao momento atual.

“As cotas estão presentes em outros espaços, como no legislativo, concursos públicos e universidades. Essa é uma das estratégias para a reparação histórica que até então nunca havia ocorrido, no país, e ajuda a materializar a representação e a representatividade do povo negro. Além disso, é preciso que as trabalhadoras e trabalhadores negros deste Conjunto se vejam representados e se reconheçam em seus pares”, Maicom em referência às equipes de trabalho dos Conselhos, compostas por profissionais de diversas áreas.

Assistentes sociais no combate ao racismo

Após ser tema da campanha de gestão do Conjunto CFESS-CRESS 2017-2020, o combate ao racismo ganhou ainda mais força dentro das entidades representativas da profissão, ou seja, dão direcionamento ético, político e ideológico do que será bandeira de luta do Serviço Social. De Norte a Sul do Brasil, o assunto foi destrinchado em debates, materiais de comunicação, ações de orientação etc.

Contudo, por entender que a luta antirracista deve ser permenente, neste 49º Encontro Nacional de 2022, com o lema “Na terra de Dandara e Zumbi, reafirmamos nossa força coletiva”, o coletivo definiu por criar um comitê de abrangência nacional, a fim de propor e acompanhar ações desta natureza dentro dos conselhos. A iniciativa foi registrada através de uma emocionante moção escrita por mãos negras e lida, ao fim dos quatro dias de evento, por várias vozes de pessoas negras.

“Assim como em dado momento histórico a categoria profissional optou por lutar e defender a classe trabalhadora, neste Encontro Nacional, esta mesma categoria profissional fez, ali, a opção pela luta constante contra o racismo, pela visibilidade, proteção, pela abertura de espaço e pelo protagonismo a ser exercido pelas e pelos assistentes sociais negros deste país”, comemora Maicom.

Bandeiras enegrecidas

Mais do que compor uma parcela importante da categoria profissional e da própria população usuária dos serviços, o povo negro se fez ouvir, com o apoio de aliadas e aliados, também nas mesas, como a de abertura, e nas moções redigidas ao longo do evento. E foram muitos os documentos que trouxeram reflexões sobre o povo negro na sociedade e no Serviço Social. Confira a seguir:

Moção de Repúdio à Violência Contra as Mulheres Negras.

Moção de Aplausos ao Grupo de Estudos das Relações Étnico-Raciais no Serviço Social (Geress).

Moção de Apoio em Defesa da Lei 12.711/2012 sobre cotas para ensino superior.

E ainda:

Live “Na terra de Dandara e Zumbi, reafirmamos nossa força coletiva”. Assista aqui.

Relembre as ações da Campanha Assistentes Sociais Contra o Racismo.

Fotos: Marcela Viana.

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