Publicado em 30/12/2021
Arte: Rafael Werkema/CFESS
Fechamos 2021 com a triste notícia: perdemos Bell Hooks! A feminista negra que nos deixou um legado de sensibilidade e força, apostando no amor para vencer a dominação. E, assim, vivendo os sobressaltos da fome, violências, descasos, desalento e toda sorte de ataque a trabalhadores/as, resistimos! Fomos à luta, ainda que cercadas de inseguranças. Aproveitamos para expressar nosso respeito e pesar a milhares de vítimas da Covid-19, em particular, as colegas que sucumbiram a seus efeitos letais.
Nós, assistentes sociais, uma categoria composta por maioria de mulheres, assumimos com garra o compromisso ético-político de defender a vida, denunciar e se colocar contra as injustiças, opressões, preconceitos e discriminações. Seguimos lutando por melhores condições de trabalho e de salário, por assegurar a nossa autonomia profissional, pelo respeito aos nossos direcionamentos éticos e técnicos. Tomamos a tristeza dos dias como o fermento para nossa labuta diária, contra os autoritarismos das instituições, e nos apegamos às conquistas históricas da profissão no Brasil, reafirmando o projeto ético-político profissional, ainda que os tempos sejam desafiadores.
O Conjunto CFESS-CRESS esteve unido e solidário, mais ciente do significado de coletivo, de parceria e, mais do que nunca, reconhecendo a importância de enfrentarmos juntos os desafios dos tempos presentes. Não estivemos sós, realizamos diversas atividades, em conjunto com a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss), nossa entidade irmanada nos princípios e nas ações, que, em seus 75 anos de existência, continua defendendo os valores do projeto ético-político com vibração. Contamos com a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (Enesso), renovando as esperanças de que as novas gerações continuem reafirmando a construção de uma profissão marcada pela coragem de enfrentar aqueles/as que hoje nos dominam. Nas lutas sociais, contamos com parcerias importantes, nos Fóruns, Frentes e Movimentos em defesa da Seguridade Social e da Educação e em nossas atuações no âmbito de Conselhos de Políticas e de Direitos. Como expresso em nossas “Bandeiras de Luta”, ainda será constante nosso empenho para alargar o campo da participação de usuários/as e trabalhadores/as, nos espaços de representação política e afirmação de direitos. E nossa luta é latina e caribenha.
Neste simbólico momento de transição do tempo, que significa a virada do ano, aproveitamos para avaliar o já feito, com a certeza do dever cumprido, registrando realizações em todas os projetos assumidos como deliberações do Conjunto CFESS-CRESS, na relação com as demandas da categoria profissional e de compromisso para com a prestação de serviços à sociedade. Queremos reafirmar que continua viva em nós a chama acesa da “práxis de resistência” (Iamamoto). Convidamos a categoria a fazer uso de nossa Agenda Assistente Social 2022, por ter nesta publicação a centelha que nos conecta às reflexões presentes nos textos, nas chamadas e nas indicações de leitura. Ali também contém arte, algo que reafirma a nossa dimensão de humanidade, para além de um cotidiano carregado de afazeres. A mensagem é que possamos sempre encontrar o instante da poesia, da literatura, das artes visuais e da cultura.
E para contribuir na dimensão do conhecimento, porque sem isto não desenvolveremos o nosso senso crítico, fechamos o ano lançando a mais nova série do CFESS, denominada “Diálogos do Cotidiano: reflexões sobre o trabalho profissional”, disponível em nosso site (clique aqui para acessar). A intenção é somar a todas as outras séries, dedicadas aos subsídios e debates relacionados aos temas com os quais a profissão contribui com suas análises críticas, no enfrentamento das históricas desigualdades de raça, classe, gênero, geração, construindo estratégias anticapitalistas, antirracistas, anticapacitistas e contra todas as formas de expressão dos conservadorismos.
Arte: Rafael Werkema/CFESS
Continuamos apostando na construção de uma sociabilidade em que a humanidade seja livre, para fruição de uma vida plena no desenvolvimento das capacidades humanas, integrada à natureza preservada em suas belezas, e onde as diferenças serão apenas expressão das diversidades que alimentem potencialidades e sensibilidades.
Para 2022, não temos dúvidas de que as lutas serão mais acirradas e nos cabe trabalhar incansavelmente para realizar as nossas metas de planejamento, nossas ações estratégicas, a defesa e valorização da profissão, da comunicação como direito humano, do fortalecimento de nossas entidades profissionais, aprimorando os instrumentos de gestão e as articulações internacionais. Que a profissão possa dar visibilidade às suas prerrogativas, sem perder o rumo do projeto que nos forja compromissos ético-políticos.
A dureza do momento histórico não deve nos afastar da certeza de que novos tempos virão; as condições na luta de classes estão dadas. Encontramos, na poesia de Oswald de Andrade, o tom poético para falar da realidade, quando diz que a “poesia é a descoberta das coisas que nunca vi”. Ainda não vimos o que se aproxima como desconstrução do instituído, por isso, seguimos na inspiração da poesia de Maiakovisky: “O mar da história é agitado. As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas”. Na esperança de que chegue a hora das “rimas veras”, como ele diz, a gestão do CFESS – Melhor ir à luta com raça e classe em defesa do Serviço Social – deseja um ano em que as promessas se realizem e as forças se renovem.
Como a vida real leva de roldão a leveza da poesia, chegamos ao final do ano com a violência das correntezas, destruindo casas, pertences e vidas, desta vez no estado da Bahia. Sabemos que tais eventos resultam de projetos que devastam a natureza, em nome da especulação imobiliária, urbanização sem planejamento adequado, descaso com as moradias construídas sem segurança, sem planejamento e desintegradas da preservação ambiental. As vítimas são as mesmas de sempre: aquelas que vão contar com a sensibilidade de doadores/as, com as promessas vãs dos poderes públicos e, muitas delas, usuárias da assistência social, da saúde e das políticas urbanas, contam com o compromisso de assistentes sociais na luta por recolocar alguma condição de sobrevivência e de reconstrução de seus lares. Expressamos nossa consternação e solidariedade às populações atingidas por mais essa tragédia.
Fonte: CFESS
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