Crimes ambientais em Minas Gerais qualificam debate sobre atuação de assistentes sociais nos locais atingidos

Publicado em 22/01/2021

A exploração dos recursos naturais em um modelo que visa o lucro a todo custo, tem feito vítimas em Minas Gerais nos últimos anos. Os crimes ambientais no município de Mariana, em 2015, e, em janeiro de 2019, em Brumadinho, por exemplo, ganharam repercussão internacional e afetam, até hoje, a vida de centenas de famílias. Este quadro tem feito assistentes sociais do estado debaterem mais a fundo a atuação profissional em territórios que sofrem situações de calamidade, emergência e catástrofe.

Destruição causada pela passagem da lama [Imagem: Ricardo Stuckert/Fotos Públicas]

Ao Serviço Social cabe uma análise que relacione estes episódios a razões econômicas, políticas e sociais. Além disso, a categoria profissional precisa se reconhecer enquanto classe trabalhadora que também é atingida pelo atual modelo de mineração em vigor no país, como pontua a assistente social Raquel Mota, docente do curso de Serviço Social da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e integrante do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Políticas Públicas, Território, Lutas Sociais e Serviço Social (Locuss/UFRJ).

“Este modelo particulariza as expressões da ‘questão social’, pois, quando falta renda, moradia, emprego, quando aumenta a violência ou quando a água e o ar estão impróprios ao consumo, ela, a lama, está lá. Não bastasse a lama, o sangue das pessoas assassinadas estão tingindo a ausência da saúde física, mental e social. Há a falta dos que se foram, do ‘lá fora’, das crianças correndo no terreiro, da prosa com o vizinho sentado na calçada, de pescar, de plantar, de colher, de ofertar queijos e quitutes.”

O modo de vida da população se alterou forçadamente após os crimes. No caso de Mariana, essas mudanças se deram com a cessão do repasse tributário e a negação do salário, chegando a 30% de desemprego depois da suspensão das atividades da mineradora Samarco. Além disso, nenhuma casa foi construída nesses quatro anos para as 362 famílias afetadas, sem contar a insegurança alimentar, visto que a contaminação da água e do solo impede que se usufrua dos alimentos.

Atuação profissional

Mortes de entes queridos, perda do sentimento de pertencimento, assim como prejuízos à saúde física e mental dessas pessoas também evidenciam como as rupturas, nessa história, não são apenas das barragens e, tampouco, podem ser incluídas nos processos de reparação. Para a assistente social e coordenadora da equipe de assessoria técnica às pessoas atingidas pela barragem de rejeitos da Samarco, em Barra Longa (MG), Verônica Alagoano, o papel da categoria nestes espaços é essencial.

Além de desenvolver políticas sociais e ações emergenciais nesses cenários de grande impacto social e ambiental, tanto de forma imediata para orientações e encaminhamento dos sujeitos atingidos, quanto nas consequências a médio e longo prazo, há muito a ser feito. A entrevistada lembra que as empresas causadoras dos danos também acionam essa e esse profissional, porém, com o intuito de obterem informações sobre o público atingido a fim de resguardarem sua imagem e minarem uma possível organização da população.

“Neste sentido, a intervenção deve se orientar pelos princípios e valores contidos em nosso Código de Ética, que trata, entre outros aspectos, da articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos mesmos princípios e com a luta geral da classe trabalhadora. Precisamos, ainda, aguçar nosso olhar para a necessidade da organização coletiva desses sujeitos, seja em movimentos sociais já existentes ou impulsionando-os a coletivizar suas demandas”, diz.

Por fim, Verônica destaca que não se pode pensar que os sujeitos e as políticas existentes darão conta de um cenário devastado, se não forem pensados a partir dos novos determinantes e das profundas consequências que os crimes ambientais causam a curto, médio e longo prazo. Por isso, além da escuta e de encaminhar este público para a rede socioassistencial, ela destaca que “é imprescindível defender a implementação de uma Política Nacional de Direitos das Populações Atingidas por Barragens (PNAB), para que a população não fique à mercê da boa vontade política ou da inoperância das empresas causadoras dos danos que buscam suas formas de intervenção na ótica empresarial de economia de gastos”.

Mais sobre

Além do Seminário Estadual “O trabalho da e do assistente social em territórios atingidos por mineração/barragens”, ocorrido em 8 de novembro de 2019, em Belo Horizonte, o CRESS-MG pautou o tema em sua Revista Conexão Geraes, divulgada no fim desse mesmo ano. Para acessar o conteúdo, clique aqui!

Matéria escrita pela assessora de comunicação do CRESS-MG, Marcela Viana, em janeiro de 2020.

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