Publicado em 28/01/2019
Há dois anos no Abrigo Maria Maria, Paula já conseguiu um emprego e faz planos para o futuro: "Quero trabalhar com arte e educação".
Desde que chegou a Belo Horizonte, há três anos, Paula Seixas, 42, conta orgulhosa que já teve a carteira assinada quatro vezes, mas, foi há um ano que ela se encontrou profissionalmente. Travesti, como prefere ser identificada, a cearense que saiu de casa aos 17 anos para tentar a vida em São Paulo, hoje trabalha com pessoas em situação de rua através do Serviço Especializado em Abordagem Social, que no município conta com pessoas com trajetória de vida nas ruas atuando como educadores pares.
“Estive muito tempo na prostituição e já fui moradora de rua, mas agora sei que desejo trabalhar com arte e com educação. Quero levar conhecimento para a população em situação de rua. Aquela calçada é uma passagem na vida dessas pessoas, quando levo meu sorriso para elas, sei que se alegram e se animam a melhorar de vida”, conta.
Conseguiu o emprego por meio do trabalho em rede realizado pela equipe que a acompanha no Abrigo Maria Maria, uma das nove unidades da Prefeitura de Belo Horizonte, em parceria com a Cáritas Regional Minas Gerais, que oferta serviços de acolhimento e socioassistenciais para pessoas em situação de rua. Inaugurado em 2000, o local tem espaço para 40 mulheres em situação de vulnerabilidade e, atualmente, tem 32 abrigadas, destas, quatro são trans.
A ideia é que a moradia provisória abrigue as mulheres, cis e transgêneros, por até um ano e meio para sse reorganizarem e darem continuidade às suas vidas, porém, o prazo muitas vezes é insuficiente, sendo comum que as abrigadas estendam esse período. Paula, por exemplo, está há quase dois anos no abrigo, mas, com o emprego fixo, pretende deixar o local em breve.
“Ganhei muito dinheiro e presentes na prostituição, mas não estava feliz. Vir para o abrigo me ajudou a organizar a vida, até mesmo nas coisas simples. Consigo manter meus armários organizados: roupas, cosméticos, bijuterias, que eu adoro, ursos de pelúcia e a cama, então, está sempre limpa”, relata algo que trivial para muita gente, mas que para uma pessoa trans em situação de vulnerabilidade significa muito.
O rompimento com os vínculos familiares é o principal motivo para levar estas mulheres trans a uma situação de vulnerabilidade. Ainda adolescente, Paula foi assediada sexualmente e expulsa de casa por simplesmente querer ser ela mesma. Emocionada, a travesti lembra que sua mãe, ao falecer, há três meses, se dizia arrependia de não ter passado mais tempo com a filha.
“Minha mãe queria muito uma filha mulher e eu nasci assim. Nunca tive culpa de ser desse jeito. Só quem vive a nossa situação sabe como é angustiante. Sofri e sofro muita discriminação e hoje convivo com a depressão. Sou como todo mundo: também preciso de um bom dia, de um aperto de mão e de um abraço para me sentir bem”, afirma, pontuando que atualmente faz acompanhamento psicológico e se sente mais centrada.
A melhoria de vida, ainda que pequena, motivou Paula a ajudar também. Atualmente, ela percorre os postos de saúde de Belo Horizonte por conta própria para coletar e, em seguida, distribuir preservativos a outras travestis e mulheres trans que atuam em zonas de prostituição da cidade. Crítica com a militância LGBTI, no início da entrevista, a cearense termina o papo se convencendo de que tanto seu emprego, como essa ação solidária, a torna uma grande militante. “É, então acho que eu sou militante mesmo, né?”, gargalha.
Ampliação e consolidação da cidadania
Moradoras cis e trans do abrigo Maria Maria apresentam exposição de roupas confeccionadas e customizadas por elas, na oficina com Matheus Couto, que deu origem à exposição "Quando as Marias falam". Foto: Cáritas.
A falta de qualificação e de escolaridade das mulheres trans que hoje vivem no Abrigo Maria Maria dificultam a reinserção no mercado de trabalho e, mais ainda, a conquista de uma moradia. Uma das assistentes sociais do espaço, Raquel dos Santos, responsável por acompanhar essas mulheres, explica que o foco de sua atuação é garantir que elas se estruturem a ponto de não precisarem voltar às ruas quando deixarem o local.
O acompanhamento e orientação dos casos são as principais tarefas das assistentes sociais neste espaço de atuação. A ideia é trabalhar com o projeto de vida destas mulheres, saber o que elas aspiram no sentido de contribuir para que elas alcancem seus propósitos. Como profissão que busca a ampliação e a consolidação da cidadania, o Serviço Social também contribui para desenvolver o senso crítico das mulheres abrigadas.
“Muitas vezes, é preciso ter tranquilidade e entender, por exemplo, que comportamentos agressivos podem ser fruto de uma história de vida sofrida. Ainda com estas limitações que a própria situação de vulnerabilidade provoca, não há dúvidas de que o Serviço Social tem potencial de proporcionar a estas mulheres um olhar crítico sobre a condição de vida em que elas se encontram”, pontua.
Entre suas funções, o Maria Maria oferece condições para a redução das violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos ou reincidência na vida de suas moradoras, além da redução da presença de pessoas em situação de rua e da garantia da inclusão social em serviços e acesso aos direitos fundamentais, temas primordiais quando se trata da população trans.
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