Ocupações de instituições de ensino e o papel da/o assistente social

Publicado em 12/12/2016


Alunas e alunos do IFNMG ocupam reitoria para reivindicar retrocessos na Educação.

O movimento das ocupações de instituições de ensino tem ganhado voz nos últimos meses. Com mais de mil escolas e universidades ocupadas em todo território nacional, estudantes questionam medidas do governo ilegítimo de Michel Temer que comprometem a qualidade do ensino gratuito, além de reivindicarem o retrocesso de direitos em outros âmbitos. 

Foi por ver a ocupação como uma ferramenta de luta contra as imposições do governo que Sávio Rodrigues, 17 anos, resolveu integrar o movimento que ocupou o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) por 22 dias. O jovem é aluno do 2º ano técnico em Informática Integrado ao ensino Médio e é membro do grêmio da instituição, primeira da categoria a promover uma ocupação no país. Para ele, a atitude foi tomada em função de o alunado não ser ouvido de outra forma senão por meio dessas manifestações. “A ocupação se mostrou imprescindível para demonstrar nosso repúdio e também aconteceu em apoio às outras centenas de escolas ocupadas até aquele momento”, conta.


O estudante Sávio, 17, participou de ocupações e diz que milita por um país mais justo e igualitário.

O estudante justifica a atitude tomada com os colegas, citando Darcy Ribeiro, que dizia que "só há duas opções nesta vida: se resignar ou se indignar". “Partindo desse pensamento, o movimento de ocupação de escolas, greves, manifestações nas ruas, fechamento de BRs entre outros, se mostra de extrema importância, pois, não podemos aceitar calados tudo que o governo nos impõe. Moramos em um país com certa liberdade de expressão e devemos saber usar isso a nosso favor”, pondera Sávio.

Embora a ocupação do IFNMG tenha sido encerrada no dia 10 de novembro e mesmo com a iminência da aprovação da PEC 55, o jovem militante sabe que quase um mês ocupando sua escola serviu como experiência e o deixou mais consciente de seus direitos e do complexo cenário político em que vivemos. “Tenho sonhos para o futuro desta nação um pouco utópicos e, talvez já tenha virado jargão dizer, mas espero um país justo e sem desigualdade social” reflete. 

Além do aprendizado pelo próprio processo vivenciado, o corpo discente conseguiu, com a ocupação, ampliar o diálogo com a reitoria do IFNMG. Veja mais informações aqui.

Assistente social militante, assistente social consciente

A ocupação de escolas, institutos e universidades por todo país com a participação massiva e efetiva de estudantes, sobretudo das e dos secundaristas, é fruto do aprendizado e exemplo que as e os jovens de São Paulo deram no ano passado, quando o governo Alckimin resolveu fazer uma reforma estadual no ensino médio, sem consultar e/ou debater com a comunidade escolar. 

Estas primeiras ocupações no estado de São Paulo obtiveram resultado concreto, pois o governo foi obrigado a voltar atrás e rever sua iniciativa, pontua a assistente social e integrante do Movimento de Trabalhadoras/es por Direitos, Iasmin Cavalcanti. Para ela, que também faz parte da Frente Brasil Popular, no Norte de Minas, o aprendizado que tem ficado para a juventude brasileira, é que iniciativas como estas, são capazes de ter conquistas concretas.

“A ocupação de escolas é algo novo na nossa realidade, mas, com certeza, não é algo que aconteceu do nada, historicamente os movimentos sociais populares utilizam dessa ferramenta para pressionar o Estado e ter conquistas de seus direitos que não são garantidos. Podemos citar o exemplo do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que iniciou na década de 1990 as ocupações de terras improdutivas e grandes latifúndios, pra reivindicar a reforma agrária, a escola do campo, e, sobretudo o direito ao acesso à terra para produção de alimentos saudáveis”, destaca.

Na atualidade, as ocupações demonstram que as e os estudantes estão informados e politizados, sabem que a PEC 55 é um retrocesso para a juventude brasileira, e estão dispostos a lutar por seu futuro, já que a medida congela investimentos na Educação, Saúde e Assistência Social por 20 anos. E mais que isso, estas e estes jovens sabem que há ausência de investimento na área da Educação: o Plano Nacional de Educação (PNE) que prevê mais investimentos no ensino fundamental, médio e superior chegando aos 10% do PIB pra Educação, não vai acontecer. Isso significa que as chances das e dos estudantes entrarem na universidade, seja através do Enem ou do Fies, serão mínimas e, portanto, o futuro dessa juventude está comprometido.

Jovens sem capacidade de criticar é o que anseia formar o governo Temer, segundo Iasmin. “Com a PEC 55 e a Medida Provisória 746, que determina a reforma do ensino médio, retirando disciplinas obrigatórias importantes para a formação crítica, como sociologia, filosofia e artes, pretende-se formar cidadãs e cidadãos acríticos, que sirvam apenas como mão de obra barata para o mercado de trabalho. Mas a juventude não quer e não aceita isso”, pondera Iasmin. 

Para ela, as e os assistentes sociais têm muito que contribuir nessa luta contra as investidas do governo federal, primeiro porque a Previdência e a Assistência Social, que já têm pouco orçamento, sofrerão com a aprovação da PEC 55. Segundo, avalia a militante, porque após a aprovação da medida, que rasga a Constituição ao meio, virão as já anunciadas Reforma da Previdência e Reforma Trabalhista, que impactam diretamente na qualidade do serviço prestado pelo Serviço Social, bem como tem efeito nefasto para a população atendida.

“Acredito que a contribuição se dá através da realização de debates com as e os usuários, a partir dos locais de trabalho, nas universidades, escolas, mas, é preciso, principalmente, que a categoria se coloque em luta, nas ruas, tendo em vista o grande número de profissionais da área que temos no Brasil. Este é o momento para que, de fato, a categoria faça o link entre o nosso Código de Ética que nos orienta a atuar com e ao lado dos movimentos populares e a realidade concreta”, observa. De acordo com a assistente social e militante, esse movimento deve ser feito através da articulação com as forças que já estão em luta e que defendem um Projeto Popular para o Brasil, pois quanto mais gente organizada nas ruas é que será possível mudar os rumos do país.

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