Publicado em 26/08/2014
O CRESS-MG, em parceria com o Centro Universitário UNA, promoveu no dia 13 de agosto, um evento aberto aos profissionais e estudantes de Serviço Social, com a abordagem de dois presentes no cotidiano de todos os assistentes sociais: a imediaticidade e a questão de gênero.
Confira, abaixo, os principais pontos trazidos pelas duas palestrantes convidadas:
Hierarquia de gênero no Serviço Social
Quando se fala em gênero, fala-se, na verdade, de relações culturais, sociais, históricas e políticas estabelecidas entre os sexos. Mas por que este é um tema caro ao Serviço Social?
De acordo com a professora da UFRN e presidenta da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (Abepss), Maria Regina Ávila, a questão de gênero é relevante para o Serviço Social, primeiro por ser uma profissão composta majoritariamente por mulheres, desde sua origem. Ela ainda observa que o público usuário, também, é, em sua maioria, feminino.
“Ambas as constatações estão articuladas e é importante entender isso, pois elas têm repercussões concretas em nossa vida, tanto nas condições trabalhistas como no atendimento que fazemos. É preciso pensar sobre que tipo de encaminhamentos e de orientações que estamos fazendo a essas mulheres”, destaca.
Dentre as diferentes correntes do feminismo, a professora esclarece que, assim como a maioria das feministas, alia-se à perspectiva socialista. Nesse sentido, defende que o Serviço Social tenha sido institucionalizado em um determinado momento de desenvolvimento do capitalismo em que houve necessidade de racionalizar uma atuação junto aos trabalhadores e suas famílias para moralizar e amenizar os conflitos emergentes do capitalismo monopolista. Sendo assim, por que teria sido essa função dirigida às mulheres?
“A profissão ter se dirigido às mulheres não resulta do fato de que elas ainda exerciam uma assistência em forma de caridade, mas, para exercer a função que o momento histórico pedia, era essencial quem estivesse apto a moralizar condutas familiares”, explica Maria Regina.
Por outro lado, ela ressalta que não se pode negligenciar que tal como o Serviço Social, outras profissões de maioria feminina deram a muitas mulheres a oportunidade de ter seu primeiro emprego, sendo este, o primeiro passo para que elas começassem a se organizar para exigir direitos iguais.
Privilégio de muitos
Existe uma relação desigual entre os sexos e que não pode ser negada. Esse privilégio se manifesta em vários âmbitos de nossas vidas. Modificar isso significa mexer com o privilégio de um desses sexos.
A divisão sexual do trabalho não é só para fora, mas para dentro das nossas casas. Para Maria Regina, a divisão social não superou a divisão sexual do trabalho, o que leva a um processo de hierarquia presente em toda a sociedade, inclusive no Serviço Social. “Onde estão os homens em nossa profissão? Quando são concursados e entram, quanto tempo eles passam num Cras fazendo um trabalho socioeducativo até assumirem funções na gestão?”, questiona.
Finalmente, a professora aponta que, no atual contexto de extremo conservadorismo e pela imediaticidade das coisas, muitos assistentes sociais têm substituído um conteúdo de intervenção profissional para, novamente, dar orientações de condutas morais e padrões de comportamento familiar.
“Isso é reproduzir as relações de gêneros que deveríamos combater. É preciso incorporar a questão de gênero na formação profissional. Reproduzir qualquer forma de exploração e opressão é oposto à sociedade que defendemos”, conclui.
Qualificar o cotidiano
É o mercado de trabalho que faz surgir o Serviço Social como profissão e, em relação à divisão social e técnica do trabalho, o assistente social é um executor terminal das políticas sociais, já dizia José Paulo Netto. Portanto, como deve operar este profissional? Ele está preocupado com os fundamentos ou em entender a realidade? O que ele aciona para desenvolver seu trabalho?
O saber de segundo grau, como explica a professora da UFRJ, Marilene Coelho, ao contextualizar a “Imediaticidade na prática profissional do assistente social”. “Nesse contexto, o horizonte da prática profissional é a vida cotidiana e ele tem um objeto multifacetado que são as expressões da questão social. A prática profissional consiste em diagnosticar os problemas do indivíduo e, então, o tratamento.”
O debate da imediaticidade atravessa a questão da teoria e prática e do exercício profissional e só é aprofundado nos anos 1980 quando passa a se discutir o cotidiano. “A vida cotidiana é a vivida por todos nós, todos os dias, e é determinada pela heterogeneidade, imediaticidade e superficialidade extensiva. Para vivê-la, temos que acionar a espontaneidade”, explica.
Na atuação profissional isso é facilmente percebido, visto que o assistente social responde a inúmeras demandas e passa de uma tarefa a outra com muita familiaridade, afirma Marilene. Parece simples, mas desgasta o profissional acionar tantas vezes pensamento e ação. “Ao final do dia, mesmo exausto, a impressão que temos é que nada fizemos, pois tudo foi feito de forma superficial.”
“A saída é qualificar o cotidiano”, afirma a professora. “A história, por exemplo, é feita no cotidiano, nos pequenos atos. O assistente social pode ter uma atitude passiva ou ativa diante da realidade.”
Imediato na atuação
O debate da imediaticidade voltou a ser amplamente debatido após o avanço do neoliberalismo, como comenta Marilene. “Em termos de reestruturação produtiva, será exigido muito mais do assistente social. Ele terá que responder a metas de produtividades, saber operar em determinados sistemas, etc. As imediações estão obscurecidas e não são problematizadas.”, diz.
A partir de estudos do filósofo Georg Lukács é que se pode ver como a imediaticidade comparece na prática profissional através do movimento que a consciência faz para apreender a realidade. “A mediação, por exemplo, existe na realidade, portanto, é ontológica e reflexiva. Já a imediaticidade é uma categoria apenas reflexiva, pois a realidade está saturada de mediações e cabe a nossa consciência desvelá-las. Por meio do pensamento hegemônico, é impossível conhecê-las imediatamente”, pontua.
O que se conhece de imediato é a aparência, e a realidade é, ao mesmo tempo, aparência e essência. Então, nossa consciência faz um percurso e repousos em que faz questionamentos e movimentos de superação, como estudado pelo filósofo Hegel e destacado por Marilene. “É neste momento que se chega à razão histórico-crítica. Para se ter uma prática competente e crítica é preciso ir além do imediato, mas não devemos descartá-lo, pois é este o ponto de partida e de chegada da intervenção profissional”, avalia.
A palestra da professora foi baseada em seu livro “Imediaticidade na prática profissional do assistente social”, da Editora Lumen Juris.
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