Publicado em 25/08/2014
A eleição de uma nova direção para a Federação Internacional de Assistentes Sociais (FITS); a aprovação de uma definição mundial de Serviço Social que se aproxime com a que a América Latina defende; uma conferência brasileira em um evento que reuniu assistentes sociais de todos os continentes. Tudo isso foi destaque na Assembleia Geral da FITS e na Conferência Mundial de Serviço Social, que aconteceram em Melbourne, na Austrália, no início do mês de julho. Os eventos foram organizados pela FITS, em parceria com a Associação Internacional de Escolas de Serviço Social (IFSSW/AIETS) e o Conselho Internacional de Bem-estar Social (ICSW).
Debater a profissão em nível internacional é uma das tarefas que o CFESS vem assumindo ao longo das gestões. E como integrante do Comitê Latino-americano e Caribenho de Organizações Profissionais de Trabalho Social/Serviço Social (Colacats), a entidade marcou presença na Conferência com a participação das conselheiras Esther Lemos, coordenadora da Comissão de Relações Internacionais, e Sandra Teixeira.
Veja também a ata sobre a criação do Colacats
A Conferência contou com a participação de profissionais de todas as partes do mundo, inclusive do Brasil, que socializaram os resultados de estudos e pesquisas.
A presença brasileira foi significativa: na sessão de apresentação de trabalhos por comunicação oral contou com cerca de 35 estudos de profissionais brasileiros e brasileiras.
Articulação internacional
A Conferência foi um importante espaço para articulação com outros países, avançando na direção das deliberações do 42º Encontro Nacional.
No dia 10 de julho, foi realizada uma reunião da região da América Latina, quando foram socializados informes do Colacats da Assembleia Geral da FITS.
Já no dia seguinte, 11 de julho, foram outras duas reuniões: a primeira com o grupo do Serviço Social Radical, que construiu moção de repúdio ao massacre de Israel sobre a população da Faixa de Gaza; e a segunda, que iniciou um processo para articulação da Rede Iberoamericana de Assistentes Sociais.
O Serviço Social Latino-americano e caribenho foi destaque e as eleições para a presidência da FITS demonstraram isso. A América Latina propôs a candidatura de Rodolfo Martinez, do Uruguai, para presidência. E por apenas quatro votos, não foi eleito para o cargo. Além do Brasil, havia representação do Chile, Argentina, Porto Rico, México, Costa Rica e Cuba. A Fits, desde então, vem sendo dirigida por Ruth Stark (Escócia/Reino Unido).
“Ainda que um candidato que apoiamos não tenha vencido, o processo eleitoral mostrou que estamos ampliando nossas articulações com outros países, inclusive da Europa e Ásia, e que partilhamos de uma necessidade de renovar a direção da Fits”, destacou Esther Lemos.
Por um conceito mais crítico para a profissão
O conservadorismo da FITS já foi alvo de críticas do Colacats e do CFESS em outras ocasiões. Nesse sentido, o Conselho Federal vem defendendo uma definição mundial de Serviço Social mais crítica, centrada nos valores e princípios éticos que o Código de Ética do/a Assistente Social do Brasil e o estatuto do Colacats trazem.
Por esse motivo, o texto aprovado consensualmente na Assembleia Geral da Fits, em Melbourne, que teve como referência a contribuição de todos os continentes, pode ser considerado um avanço. Isso porque o documento concebe o Serviço Social como profissão, o que possibilita para cada região uma interpretação singular, de acordo com os marcos teóricos e legais nacionais.
Leia a definição aprovada na Fits
“A luta do CFESS nas assembleias anteriores, a proposta de realização do workshop a partir do GT Definição e, posteriormente, com demais países da América Latina e Caribe, que resultaram no texto aprovado no evento do Rio de Janeiro (RJ) em 2012, bem como a criação do Colacats e a inclusão desse mesmo texto como referência adotada pelas organizações nacionais que compõe o Comitê, expressaram o acerto na estratégia e vitória da aprovação de um conceito de Serviço Social na FITS, que permite o reconhecimento das particularidades locais”, completou Esther Lemos.
Um pouco mais sobre a Conferência Mundial
A Conferência Mundial de Serviço Social, Educação e Desenvolvimento Social teve como tema “Promovendo a Igualdade Social e Econômica” e contou com a presença de aproximadamente 1500 participantes de 78 países.
O CFESS, juntamente com demais organizações profissionais latino-americanas, tem lutado, para garantir na programação internacional das conferências fora da América Latina, a participação de conferencistas que expressem realidade e direção ético-política da região, tendo em vista que, desde 2010, o evento é organizado Fits, Aiets e ICSW.
Por isso, a conferência da professora Marilda Iamamoto no dia 10 de julho, com tradução para espanhol, francês, inglês, japonês e mandarim, pode ser considerada uma conquista. Com o tema “Mundialização do capital, desigualdade e Serviço Social”, Marilda fez uma análise das contradições postas pelo capitalismo contemporâneo e seus impactos para a profissão, bem como o reconhecimento da diversidade do Serviço Social no mundo.
Iamamoto destacou o protagonismo da categoria de assistentes sociais no Brasil, a direção política de ruptura com o conservadorismo e do projeto ético-político profissional, ressaltando o comprometimento de uma profissão com a superação da ordem societária sob a ordem do capital.
Ao final de sua exposição, convidou o público a fortalecer articulações internacionais no campo da pesquisa e do exercício profissional, de modo que no contexto de crise possam ser adensadas forças políticas na direção de Serviço Social radicalmente compromissado com as necessidades sociais.
A próxima Conferência Mundial será realizada em Seul, na Coreia do Sul, em julho de 2016. “Nosso desafio é marcar presença qualificada, socializando o trabalho coletivo e trocando experiência com demais profissionais, para fortalecimento da luta e resistência do Serviço Social comprometido com a superação da ordem do capital”, avaliou a conselheira Sandra Teixeira.
CFESS e Fits se manifestam contrários às ações de Israel em Gaza
Em decorrência dos ataques militares de Israel na faixa de Gaza, que deixou centenas de pessoas mortas, as entidades de Serviço Social do mundo inteiro se manifestaram pedindo paz.
A Fits, por exemplo, divulgou uma nota em que afirma que muitos/as assistentes sociais, sejam da Palestina ou de Israel, têm lutado pela paz na Faixa de Gaza, e estão desenvolvendo um papel fundamental na reparação dos traumas causados pelos conflitos. “Acreditamos que os seus esforços têm ajudado a conter a violência em relação aos níveis mais catastróficos”, diz trecho da nota em inglês (tradução livre).
Leia a nota da Fits (em inglês)
Mais recentemente, o CFESS também lançou uma nota sobre os acontecimentos em Gaza. “É necessário que assistentes sociais de todas as partes do mundo denunciem e se contraponham a qualquer forma de arbítrio, discriminação, preconceito e violação de direitos humanos. O CFESS acredita na necessidade e possibilidade dos povos judeus e árabes construírem juntos, democraticamente, a libertação das populações dominadas e oprimidas, especialmente o povo de Gaza”, diz trecho do documento.
Fonte: CFESS
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