CRESS-MG Entrevista – A mulher negra no Serviço Social

Publicado em 06/08/2014

Dois desafios para um mesmo indivíduo: ser mulher e ser negra. Ou deveríamos dizer: ser negra e ser mulher? Em uma sociedade como a brasileira, patriarcal, machista e essencialmente racista, é complicado avaliar qual condição sofre mais com preconceitos e desigualdades.

Pode-se afirmar que a mulher negra sofre duplamente. Mas também é certo que, invariavelmente, quando reunidas, essas características tornam qualquer ser humano mais forte para enfrentar as mazelas desta sociedade doente.

Confira a entrevista realizada pelo CRESS-MG, com a assistente social, professora de graduação e pós-graduação em Serviço Social e doutoranda em Educação, Vitória Régia Izaú, sobre a relação do gênero e raça no Serviço Social.

1.    O que representa, para você, ser mulher e negra, nos dias de hoje?

A situação das mulheres exige lutas contínuas de valorização, seja no mercado de trabalho, ou no campo político, tendo em vista que o Brasil guarda muitos resquícios da Ditadura Militar que sedimentaram a ideia de que não temos voz, nem vez.

Já a luta do povo negro tem história e que precisa ser reverenciada, para não fazer uma leitura aligeirada das questões raciais que presenciamos. Durante a Copa do Mundo, presenciamos situações de racismo, mostrando que temos a discriminação racial como uma marca histórica e delicada de ser combatida.

Temos hoje, políticas afirmativas, que trazem questões para que se equalizem os direitos sociais, mas ainda temos muito a percorrer.

Por tanto, para mim, ser mulher e negra, principalmente no Serviço Social, é ser militante e ensejar uma luta não só minha, mas de um coletivo que aqui eu represento.

2.    Como esta condição se relaciona com o Serviço Social?

Nenhum ser humano deve ser reduzido a sua condição social, a sua raça, a sua etnia, etc. Todos nós somos dotados de inteligência e que podemos e devemos construir nossa própria história.

O olhar marxista que nós, assistentes sociais, carregamos, amplia nossa base de luta ao mostrar que a nossa condição objetiva de vida não está inscrita apenas na materialidade e imediatismo do cotidiano, mas que está sim, inserida em uma conjuntura que deve ser considerada.

Acredito que lutas como a do negro e a da mulher devem ir além dos muros institucionais. Embora a luta pela defesa intransigente dos direitos humanos seja hegemônica dentro da profissão, ela não é uma receita de bolo e precisa ser construída no cotidiano.

Defender nosso projeto ético-político é transcender a ordem vigente do capital e ensejar cada vez mais, novas possibilidades, para fazer com que as histórias de vida tenham sentido. E sentido por meio da luta. 

3.    Como suas experiências de vida influenciaram na sua escolha profissional?

Vivi por 26 anos na Rocinha, no Rio de Janeiro. Venho de uma família combativa, o que me trouxe um escopo de lutas e reivindicações que me fizeram ter um olhar diferenciado com relação à militância e a luta diária vivida por tantas famílias negras e pobres. 

Sei que como eu, há muitos outros estudantes e profissionais com histórias parecidas, e que veem na profissão, uma forma de transformar a sua própria realidade. Além disso, por ser uma profissão que tem esse olhar com relação ao sujeito e a sua própria condição de luta para que os direitos sociais e cidadania se efetivem, vejo como um valor muito grande, conceber a opção pelo Serviço Social como ideológica.

Hoje, a minha experiência, eu repasso para os meus alunos. Por meio da docência, faço minha militância, incentivando os universitários para ampliarem seus conhecimentos e darem sequência na luta pela garantia de direitos de todos e todas.

Um dia para ser lembrado!

O contexto histórico e social do Brasil se assemelha ao de muito outros países latinos e caribenhos, como Venezuela, Colômbia e Cuba. Com o objetivo de ampliar e fortalecer a união e a mobilização das mulheres negras no continente, em 25 de julho de 1992, após o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas em Santo Domingo, na República Dominicana, surgiu o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.

Neste ano, o CRESS-MG produziu um conteúdo especial sobre a data. Confiram!

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