BH sedia 1º Encontro Estadual de Residência Multiprofissional com Inserção do Serviço Social

Publicado em 30/10/2012

Na última semana, Belo Horizonte sediou o 1º Encontro Estadual de Residência Multiprofissional com Inserção do Serviço Social, promovido pelo CRESS-MG. O evento aconteceu nos dias 25 e 26 de outubro e recebeu residentes e profissionais de diversas áreas da Saúde para aprofundar o debate sobre a realidade da Residência Multiprofissional. 

O encontro contou, ainda, com a presença de especialistas que estão na ponta desse debate. Confira os destaques do evento!

Saúde – Um debate político
Saúde não é só ausência de doença, e nem é apenas assistência à doença. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, bem como a defesa do Serviço Social, a Saúde deve ser entendida como um grupo de necessidades da condição de trabalho e vida que precisa ser efetivado. 

Nesse contexto, o Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado com a proposta de ser um sistema universal, integral, equânime e democrático. No entanto, distorções no modelo de financiamento têm modificado essa lógica. Esse foi um dos assuntos da mesa temática "Política de Saúde na atualidade e a estratégia de formação do assistente social na modalidade de residência multiprofissional”, que foi iniciada por Ruth Bittencourt, professora do Curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e representante do CFESS no Conselho Nacional de Saúde (CNS). 

A respeito da financeirização da Saúde, exemplificada hoje por meio da proposta de criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH) e de tantas outras Parcerias Público-privadas (PPPs), a professora é incisiva. “Tanto a Constituição Federal como a Lei Orgânica da Saúde trazem que é vedada a participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à Saúde, no Brasil. Mas não é isso que estamos vivenciando. A EBSERH, por exemplo, acaba com o sistema federativo brasileiro!”
 
De acordo com Ruth, antes de iniciar o debate sobre a Residência Multiprofissional, é essencial que o assistente social compreenda o modelo de Saúde defendido pelo Serviço Social. “Nosso mote é discutir o SUS, tendo a iniciativa privada como forma complementar para a sociedade, e não de forma substitutiva, como tem acontecido.” 

Entre as formas de reverter a situação em que se encontra a saúde pública brasileira, ela cita a necessidade de formar quadros, criar espaços de resistência, ter melhor interlocução com os poderes constituídos, órgãos de controle e movimentos sociais. A professora ressalta, ainda, que a população precisa ser mais estimulada a intervir nos espaços de participação social. “Para que se possa avançar na radicalização da democracia social, econômica e política, a defesa da Saúde tem que ser uma luta organizada e unificada. É necessário apostar na possibilidade de ampliação dos direitos sociais como mediação importante para a construção de um novo mundo”, conclui. 

Para conferir os slides usados por Ruth durante a apresentação, clique aqui

Realidade da Residência Multiprofissional
 
As características e desafios da Residência Multiprofissional foram abordados por Thaísa Closs, assistente social com Residência Integrada em Saúde, Atenção Básica pela Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (2006/2008), professora do Curso de Serviço Social da PUCRS e doutoranda em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
 
Para ela, em primeiro lugar é preciso entender a Residência no contexto de estratégias para a formação de trabalhadores compromissados com o modelo assistencial do SUS. “É nesse sentido que visualizamos a necessidade da construção e fortalecimento de uma cultura e práticas assistenciais contra-hegemômicas, que tencionem esse projeto privatista de saúde. E isso passa por uma nova cultura de formação em saúde.” 
 
Thaísa afirma, ainda, que é a partir do campo do trabalho e da articulação política dos trabalhadores é que podem ser feitas mudanças no SUS. Entretanto, ela diz que isso requer, fundamentalmente, formação alinhada com a reforma sanitária. Nesse sentido, a professora define dois modelos de Residência: “Treinamento em serviço” e “Formação no e pelo trabalho, orientada pela reforma sanitária”. 
 
O primeiro modelo, que predomina atualmente, é caracterizado por um trabalho de carga horária excessiva, sem reflexão, no qual o residente aprende por repetição. Para Thaísa, essa é uma perspectiva que contradiz o modelo alinhado à reforma sanitária. “A Residência precisa estar impregnada pela lógica de apreender e intervir de forma ampla nos processos de Saúde e doença, tanto nas dimensões individuais, como nas coletivas.” 
 
Entre os desafios encontrados para o aperfeiçoamento dos Programas de Residência Multiprofissional, Thaísa acredita que é necessário haver maior compreensão do que é e como se faz o controle social, além de definir melhor quais são as áreas do SUS em que o papel do assistente social é mais estratégico.
 
O equilíbrio entre prática e teoria, na Residência, também é defendido pela professora. Para ela, os Programas devem criar mais espaços de discussão teórica focados no Serviço Social. “O campo da pesquisa muitas vezes vem sendo relegado e isso deve ser revertido, pois são esses estudos que garantem a dimensão reflexiva e crítica do processo de formação”, afirma Thaísa. 
 
Ao final do debate, a professora falou sobre seu livro recém-lançado, “Serviço Social, Residência Multiprofissional e Pós-Graduação: a excelência na formação do assistente social” (Editora PUCRS). O material, organizado em conjunto com Maria Isabel Barros Bellini, pode ser acessado gratuitamente clicando aqui. Link sendo gerado!
 
Para conferir os slides usados por Thaísa durante a apresentação, clique aqui

Debate em ação

Na segunda parte do encontro, foi realizada a oficina “A formação dos diversos sujeitos envolvidos na Residência Multiprofissional: a contextualização da Residência em Minas Gerais”. A atividade foi ministrada por Marina Monteiro de Castro e Castro, doutoranda em Serviço Social pela Universidade Federal (UFRJ), professora do Curso de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e coordenadora regional de graduação da ABEPSS Leste. 

O evento foi encerrado com o lançamento do Fórum de Residentes de Serviço Social. A iniciativa tem como objetivo mobilizar e agregar a participação dos residentes assistentes sociais, preceptores, tutores e coordenadores em torno de questões direcionadas à conjuntura da política de Residência e ao debate da estruturação de diretrizes pedagógicas para essa modalidade de formação. Clique aqui e conheça o blog do Fórum! 


Ato Médico – Em breve

O segundo dia do encontro foi reservado para debate sobre o Ato Médico e os prejuízos que esse Projeto de Lei pode causar caso entre em vigor. A mesa foi composta por profissionais de diferentes áreas e que são membros da Frente Mineira em Defesa da Saúde.

Em breve, mais detalhes sobre esse debate e as contribuições trazidas pelos convidados!

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