Publicado em 24/11/2011
A entrevista de hoje, em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra (20/11), é com o assistente social Waldeir Eustáquio dos Santos, membro da Comago (Comissão de Apoio a Grupos Organizados) do CRESS-MG. Na entrevista, ele fala sobre a importância de se discutir os temas raciais dentro e fora do conselho.
Como você avalia a participação dos negros no Serviço Social?
Os negros no Serviço Social estão bem representados em termos quantitativos, essa é a minha visão de dentro da profissão. Conheço muitos negros que participam de movimentos relacionados a essa temática, inclusive dentro do próprio movimento negro, mas na categoria isso é pautado de maneira aleatória. Precisamos trazer para agenda do Serviço Social a questão racial, vejo grandes debates em torno da questão LGBT, por exemplo, e acho que o quesito raça também precisa desse empenho. Claro, preservando a unidade de movimento social. Isso é importante!
Nessa profissão, o que muda com o fato de ser negro?
Muda muito a percepção da realidade. Fui criado em um bairro da periferia de BH, sei a cor dos meus vizinhos, sei a cor dos moradores da favela! Sei a minha cor! Muda por que vemos que a questão da droga, da violência (todas as suas formas), da pobreza, enfim, a desigualdade social é enfrentada por toda a população, mas a “grande” maioria que enfrenta essa desigualdade é formada por negros. Isso é fato! Você percebe que os grandes problemas sociais que enfrentamos no cotidiano profissional são vivenciados por essa população, e assim você passa a valorizar e reivindicar algumas políticas específicas. Valorizo muito às políticas de ações afirmativas.
Como o projeto ético-político do Serviço Social aborda a questão da consciência negra?
Gostaria de retomar uma parte da primeira resposta. O projeto ético-político pauta a unidade dos movimentos sociais e, assim, a questão da consciência negra está dentro da luta geral, junto com os trabalhadores em busca da emancipação humana sonhada por Marx. Por isso, penso que precisamos elevar o tom em algumas frentes de batalha e não privilegiar determinados fóruns de debate.
Em um país composto majoritariamente por negros e mestiços, por que o racismo ainda é tão presente?
Ainda somos um país da “democracia racial”! “No Brasil não existe racismo!” Esse é o debate que vemos por aí e muitos ainda acreditam nisso. O discurso da igualdade no Brasil é mais perverso do que se imagina. Na África do Sul e nos EUA ficaram conhecidas algumas políticas específicas de segregação racial, e a luta dos africanos e dos americanos contra essas políticas chegou a nosso país. Mas, nesses dois países, você sabia com quem era, ou, contra quem era a briga. Quando esse debate chegou ao Brasil foi desconstruído pela falácia da igualdade entre todas as raças. O preconceito existe, é velado e fica até difícil responder por que é tão forte nesse país miscigenado. As mensagens passadas pela classe dominante são sutis. Utilizam-se de novelas, onde o negro é sempre o empregado de uma família rica, anúncios de jornais que pedem pessoas de boa aparência (leia-se “não negras”) e etc. Enfim, o debate é complexo. Mas não podemos fugir.
Como o/a assistente social pode contribuir no combate ao racismo?
Fico pensando nos grandes debates em torno da educação, por exemplo, não se percebe ninguém questionando (em termos de acesso) o ProUni (Programa Universidade para Todos). Ele beneficia uma população de trabalhadores e trabalhadoras. Mas esses beneficiados são encaminhados para as escolas de ensino superior privadas. De quem são essas escolas? E a qualidade do ensino, como é? Onde estudam os filhos dos donos dessas escolas? Por outro lado, vejo um grande debate em torno das cotas em universidades federais. Por que será? Quem estuda em universidade federal? São os mesmos trabalhadores que estão nas particulares? Ou são membros de uma elite?
Desculpem-me por tantas perguntas. Fico pensando que o assistente social não precisa ser favorável às políticas de ações afirmativas como eu sou, mas que ele utilize aquilo que tem de melhor: a capacidade de enfrentamento da questão social, embasado no nosso projeto ético-político. É preciso enfrentar as desigualdades sociais e econômicas, expressas na violência, na fome, no desemprego e outras carências da vida humana. Enfrentando isso, o assistente social contribuirá muito na luta contra o racismo, não apenas no Brasil, mas, no mundo.
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