Publicado em 22/11/2011
Para lembrar o Dia da Consciência Negra (20/11), realizamos algumas entrevistas sobre o tema. Divulgamos hoje a conversa que tivemos com Alexandre Braga, que é presidente estadual da União de Negros Pela Igualdade (Unegro), africanista, conselheiro municipal de igualdade racial de Belo Horizonte, tesoureiro do Fórum Mineiro de Entidades Negras e estudante da Especialização em Políticas Públicas de Raça e Gênero na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).
Nos seus anos de militância, o cenário da luta pelos direitos dos negros no Brasil sofreu mudanças?
Ele mudou muito. Antes era só denunciar o racismo, agora, além disso, existe a luta pela inclusão racial através da promoção da igualdade racial, que é um tema novo. Ou seja, na economia globalizada e capitalista, a inclusão é a principal bandeira do Movimento Negro.
Atualmente, quais as principais demandas do Movimento Negro no país?
As cinco principais são: consolidação das ações afirmativas na educação, em que diversas universidades públicas criaram tais mecanismos para incluir negros e índios; inclusão do quesito raça/cor nos censos, dados e documentos públicos dos governos e órgãos públicos; treinamento e capacitação de servidores da saúde para lidar com as demandas específicas da saúde da população negra com apoio do Ministério da Saúde; efetivação da Lei 10.639 que versa sobre a inclusão da história africana e afro–brasileira nas escolas públicas e privadas do país e regulamentação do Estatuto da Promoção da Igualdade Racial, recentemente aprovado.
O governo federal precisa transformar em ação concreta o que determina o estatuto para, assim, promover a inclusão de negros e negras no mercado de trabalho, combater a intolerância religiosa, incentivar a participação dos negros na política – já que somente 9% dos negros são deputados no Brasil – e etc.
Qual é o papel da Unegro nesse contexto?
A Unegro, depois do 4º Congresso Nacional realizado dia 12 de novembro, em Brasília, é a maior organização do Movimento Negro. Mobilizamos 700 delegados e mais de nove mil na base, ou seja, temos uma enorme responsabilidade nisso tudo e, por meio disso, a Unegro articula com os governos municipais, estaduais e federal para ampliar os recursos financeiros direcionados às políticas de promoção da igualdade racial.
Com uma grande parcela de negros e mestiços no Brasil, por que o racismo ainda é tão presente?
O racismo está mais presente do que a gente pensa. Em todos dados estatísticos, censitários, indicadores sociais entre outros, a população negra compõe os piores níveis, seja no desemprego, na habitação ou na qualidade de vida. Ou seja, os negros no Brasil vivem uma forte discriminação racial que é invisível e visível ao mesmo tempo. Invisível porque os meios de comunicação, a ideologia do país, tenta negar esse racismo, pois tenta mostrar um Brasil lindo por natureza e misturado, sem qualquer violência racial do tipo que vemos em outros países. Mas, ao mesmo tempo, o preconceito é visível. Basta consultar os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para ver o quanto a pobreza atinge os negros.
O que contribui para reforçar o racismo no Brasil?
Uma série de fatores que vão desde o problema de classe ao problema de raça. As elites fomentaram o racismo por muitos anos, desde o início até ao fim da escravidão, em 1888, no qual leis públicas proibiam os negros ex-escravos de frequentarem a escola, terem empregos, e conviver com os demais cidadãos. Inclusive, tivemos códigos que incentivavam a entrada no Brasil de europeus, chineses, entre outros grupos étnicos não-pretos.
E o que pode ser feito para combatê-lo?
Primeiro, o Brasil, como um todo, precisa se engajar para por fim ao racismo. Não basta somente o Movimento Negro ou um grupo pequeno de pessoas bem intencionadas. É preciso que esse tema integre a agenda política brasileira. O racismo não pode ser algo visto como um ranço do passado, entre brancos e pretos, e sim uma bandeira para colocar o Brasil, de vez, no século XXI. E para isso é preciso o investimento financeiro em políticas públicas para superar o racismo, seja na educação, na cultura ou nos desenvolvimentos sócio-econômicos, já que esses grupos não tiveram esse investimento ao longo da nossa história.
Como a mídia contribui para isso?
Até hoje a mídia só ajudou a piorar a situação. Primeiro porque os grandes meios de comunicação estão nas mãos dos ex-senhores de escravos. Antes, eles eram grandes fazendeiros e agora, acumularam riqueza e se tornaram donos de rádios, emissoras de televisão, entre outros veículos de comunicação. Portanto, a situação só mudou de nome, mas a concentração de poder, não. Somente com a regulamentação da mídia é que vamos colocar os meios de comunicação a serviço do esclarecimento e da não-discriminação racial.
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