Olimpíadas e a atuação de assistentes sociais: o impacto do Serviço Social na formação de atletas

Publicado em 09/08/2024

É tempo de Olimpíadas, quando brasileiras e brasileiros se juntam para torcer por atletas do país e acompanhar as histórias de vida que cercam um dos maiores eventos multiesportivos do planeta, como a do corredor Jesse Owens, estadunidense negro, que ganhou quatro medalhas de ouro em meio a insultos racistas, em plena Alemanha nazista de 1936, até a atualidade, com Beatriz Souza e Rebeca Andrade, duas brasileiras negras, medalhas de ouro, em que o esporte oferecido por meio de projetos sociais, mudou o rumo de suas vidas.

Os jogos olímpicos são sempre recheados de momentos marcantes que, no Brasil, vão além das competições. Além de trajetórias de superação pessoal, são inúmeros os exemplos em que a prática esportiva transformou realidades e promoveu inclusão social, tendo sido um poderoso agente de mudança. E você, já se perguntou onde o Serviço Social pode entrar nessa equação?

Para entender melhor, é preciso considerar que na realidade brasileira de desigualdade social com marcado viés racista, vivenciada por muitas e muitos desses atletas, projetos sociais são oportunidade para viabilizar o acesso aos direitos e ao direito ao esporte. Por outro lado, o Serviço Social, que desempenha um papel essencial na luta por uma sociedade mais justa e inclusiva, tem relevante contribuição nesta seara desportiva.

O jogo para além do campo

Assistentes sociais trabalham  em times de futebol e projetos sociais buscando viabilizar  que crianças e adolescentes  tenham acesso a recursos necessários para desenvolverem todo o seu potencial, viabilizando acesso à educação, à alimentação apropriada, à cultura, à profissionalização e até mesmo atuando para desenvolver a autonomia das pessoas atendidas, como aconteceu com uma criança com deficiência intelectual inscrita num projeto de Taekwondo, em que a assistente social Juliana Miranda trabalhou.

“Inicialmente não se sabia se a menina, acompanhada de sua mãe, conseguiria acompanhar os movimentos. Com o tempo, a criança desenvolveu significativamente sua coordenação motora e ganhou confiança, trazendo uma mudança positiva para toda a família”, conta a profissional que atuou em projetos sociais do Instituto Nacional de Esporte, Educação e Cultura (Ineec), no município de Santa Luzia, atendendo crianças e adolescentes, entre 8 e 18 anos. 

O futebol feminino é outra modalidade que tem crescido muito ao redor do mundo e, claro, também por aqui. Nesta semana, a seleção brasileira conseguiu um resultado impactante ao vencer a melhor equipe na atualidade, a Espanha, por 4 a 2, nas Olimpíadas de Paris. Dentro dessa trajetória de crescimento da prática, destacam-se histórias de jovens que, com a contribuição do trabalho de assistentes sociais, transformaram suas vidas através do esporte.

Juliana relembra com emoção o caso de três alunas de futebol que foram selecionadas para jogar no Atlético Mineiro. “Essas jovens atletas mostraram talento desde cedo, mas não tinham as mesmas oportunidades que outras crianças mais privilegiadas. Com o trabalho contínuo das e dos assistentes sociais, elas tiveram acesso a treinamentos e orientação, o que culminou na seleção de ambas para a base do time mineiro”, compartilhou.

O olhar profissional é, muitas vezes, determinante para que aquela criança ou adolescente, assim como seus familiares, tenha os devidos encaminhamentos para acessar direitos básicos. “Desde a inscrição, a gente começa a atuar, analisando se a criança vem só ou acompanhada, se tem documentos ou não”, observa.

A necessidade de ter que sair para trabalhar e ganhar o sustento, diante da ausência de uma rede de apoio, de serviços sociais públicos, faz com que muitas mães, sobretudo solos de famílias pobres, não consigam acompanhar suas crianças e adolescentes. “O menino entra em campo e dá tonteira. A gente conversa, tenta entender o contexto, e descobre que ele não tomou café da manhã. Quando avaliamos a história da família, a mãe é solo e não acessam proteção social que garanta melhoras condições de vida ”, conta Juliana.

Já houve episódios em que os projetos onde a profissional atuou, se mobilizaram para levar essas alunas e alunos a Unidades Básicas de Saúde (UBS) locais, a fim de se certificar questões do acesso a saúde. Outro movimento importante é o de orientar familiares sobre seus direitos para que ao acessarem equipamentos e serviços públicos, saibam reivindicá-los: “A população precisa saber daquilo que é direito, não favor. O acesso a essa informação é papel de assistente social”, avalia.

Provas com obstáculos

Assim como em outras áreas de atuação, são muitos os desafios enfrentados ao trabalhar em projetos esportivos voltados para territórios vulneráveis. Juliana explicou que muitas vezes as condições de trabalho e da própria prática esportiva são inadequadas, com falta de infraestrutura e de recursos. No entanto, com construção coletiva , assistentes sociais, junto a equipes multidisciplinares, encontram paliativos para esses problemas. 

“Às vezes, o projeto oferecia a camisa, mas a criança não tinha chuteira para vir aos treinos. Assim, a gente articulava com a rede parceira, ou comunidade local para que fossem feitas doações de sapatos para essas meninas e meninos. Soa assistencialista, mas eram as ferramentas que tínhamos naquele espaço e momento para viabilizar o acesso dessas crianças ao esporte, enquanto fazíamos outras articulações por outras vias mais morosas”, pontua.

Outro ponto sinalizado por Juliana, é a baixa duração de muitos desses projetos, que não permite dar a devida continuidade ao acompanhamento das crianças e adolescentes. “No caso de projetos sociais financiados por empresas, muitas vezes o que mais importa é dizer quantas pessoas foram atendidas e, nisso, a duração dessas iniciativas nem sempre permite o devido acompanhamento para incidir efetivamente na realidade desses sujeitos”, destaca.

Assim como essa edição das Olimpíadas tem mostrado a importância da psicoterapia no cuidado da saúde mental, que reflete no rendimento de atletas, como foi abordado pela jovem skatista Rayssa Leal e a ginasta Rebeca Andrade,  o caminho que as leva ao pódio muitas vezes tem, nos bastidores, a atuação de assistentes sociais. E para esse reconhecimento, é preciso que os projetos recebam o financiamento necessário para seguir existindo.

“É fundamental que haja uma maior conscientização sobre a importância do Serviço Social no desenvolvimento esportivo, promovendo uma cultura de valorizar e investir nessas iniciativas”, comenta Juliana. O esporte e o Serviço Social juntos têm o poder de transformar vidas e construir um futuro melhor, e esse potencial é visto no cotidiano, em pequenos gestos, como a vez em que Juliana levou os pequenos para conhecerem o Estádio do Mineirão, num passeio de cerca de 30km.

“Uma das crianças foi todo o trajeto com o rostinho colado no vidro, observando todo o percurso. Quando passamos pela Lagoa da Pampulha, ela, admirada, me disse: ‘Nossa tia, é tão bom viajar!‘. Eu pensei comigo: ‘você nem imagina o quanto‘. Então, o que é simples para muita gente, era uma viagem pra ele. Na visita, tiveram acesso ao gramado, vestiários e foi muito emocionante”, conta.

Projetos e programas sociais como os que dão a oportunidade a muitas crianças a participarem de eventos grandiosos como as Olimpíadas têm potencial não só para criar campeões, mas cidadãs e cidadãos conscientes e comprometidos com a mudança social. “Tirar a criança daquele universo tão conflituoso por algumas horas, para que ela acredite e entenda que é possível uma outra realidade é um aprendizado, impacto para toda a vida, independente de seguir ou não a carreira esportiva”, avalia.

A integração destes dois universos, esporte e Serviço Social, vai além das competições e medalhas. É sobre dar a jovens em situações de vulnerabilidade a chance de sonhar, de acreditar em um futuro melhor, acessar direitos, bem como ter as ferramentas necessárias para transformar suas vidas. Ao comemorar os feitos dos nossos atletas nas Olimpíadas, lembremos também de outras profissionais  e atores que fazem parte desta trajetória tão bonita e transformados – as e os assistentes sociais – que trabalham incansavelmente para fazer dessas vitórias uma realidade.

Conheça mais sobre o CRESS-MG

Informações adicionais
Informações adicionais
Informações adicionais

SEDE: (31) 3527-7676 | cress@cress-mg.org.br

Rua Guajajaras, 410 - 11º andar. Centro. Belo Horizonte - MG. CEP 30180-912

Funcionamento: segunda a sexta, das 13h às 19h


SECCIONAL JUIZ DE FORA: (32) 3217-9186 | seccionaljuizdefora@cress-mg.org.br

Av. Barão do Rio Branco, 2595 - sala 1103/1104. Juiz de Fora - MG. CEP 36010-907

Funcionamento: segunda a sexta, das 13h às 19h


SECCIONAL MONTES CLAROS: (38) 3221-9358 | seccionalmontesclaros@cress-mg.org.br

Av. Coronel Prates, 376 - sala 301. Centro. Montes Claros - MG. CEP 39400-104

Funcionamento: segunda a sexta, das 13h às 19h


SECCIONAL UBERLÂNDIA: (34) 3236-3024 | seccionaluberlandia@cress-mg.org.br

Av. Afonso Pena, 547 - sala 101. Uberlândia - MG. CEP 38400-128

Funcionamento: segunda a sexta, das 13h às 19h