Publicado em 30/01/2019
Desde que a Campanha de Gestão (2017-2020) do Conjunto CFESS-CRESS Assistentes Sociais no Combate ao Racismo foi para as ruas, em 2018, o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Serviço Social têm promovido e dado visibilidade a inúmeras ações, que vão desde intervenções nas ruas do Brasil para dialogar com a população sobre a temática, até a organização de seminários, rodas de conversas e produção de material de orientação.
Mas como a categoria de assistentes tem participado e se engajado na campanha? Como combater o racismo no cotidiano profissional, nos espaços sócio-ocupacionais e no atendimento à população usuária do Serviço Social?
Foi a partir dessas questões que o site oficial da campanha passou a contar com uma seção que reúne relatos de experiências de assistentes sociais no combate ao racismo no cotidiano profissional, como oficinas, reuniões, entre outros.
“Sabemos que nosso trabalho tem relação direta com as demandas da população negra, que busca acessar serviços públicos como os de saúde, educação, habitação e assistência social, etc. E como o combate ao preconceito é um fundamento do nosso Código de Ética, queremos ouvir a categoria se ela aborda e como ela aborda a questão racial no atendimento a essas pessoas”, explica a coordenadora da comissão de Comunicação do CFESS, Lylia Rojas.
E já começaram a aparecer no site os primeiros relatos da categoria. O assistente social Tales Fornazier, que trabalha no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) de Guará (SP), entrou no site da campanha e contou um pouco sobre sua experiência de combate ao racismo no seu espaço de trabalho.
O relato pode ser lido neste link.
“Dialogar com a população acerca do racismo foi um fato histórico para o município de Guará, já que pela primeira vez houve uma ação desta magnitude sobre este tema no município. Por meio do Cras, realizamos a ação como uma das atividades que compõe o trabalho social com famílias acompanhadas pelo Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (Paif). Ao longo dos últimos meses temos dialogado com a equipe sobre a importância de alargarmos o olhar da assistência social e trabalhar questões como discriminação devido à condição de classe, de raça-etnia, da sexualidade, de gênero etc. Ou seja, questões que perpassam a vida vivida da população usuária e que, não raras vezes, são negligenciadas pela política, já que ainda há nela uma perspectiva muito reducionista e limitada, concebendo-a apenas enquanto provisão material, esquecendo da potencialidade e da amplitude de possibilidades que se coloca para o trabalho social com famílias no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (Suas)”, explicou Tales.
O assistente social conta que a discussão sobre a questão étnico-racial vem sendo realizada ao longo do último ano, seja nas discussões realizadas sobre desigualdade de gênero, violência institucional, violência doméstica e intra-familiar, seja nas discussões mais específicas sobre o racismo.
“A maioria quase que absoluta da população que é atendida e que participa do grupo é negra. E a proposta da ação foi muito bem recebida pela população e também pelos/as profissionais da educação que participaram. Algumas das professoras da rede de ensino municipal e estadual nos procuraram para estabelecer parcerias e realizar atividades sobre o racismo na escola; e no que diz respeito à população, também foi muito positivo a discussão proposta no evento, exemplo disso é a demanda que partiu de algumas das participantes do grupo do Paif que estavam presentes, em realizar a discussão étnico-racial de forma mais aprofundada e contínua nos grupos semanais”, detalhou.
Dados estatísticos mostram que a população negra é maior usuária de políticas sociais, a mais afetada pelo desemprego, subemprego e trabalhos informais, é o principal alvo da violência – seja contra as mulheres negras através de violência doméstica ou feminicídio, seja através dos jovens negros que são assassinados cotidiana e brutalmente pela polícia nas periferias – e do analfabetismo e baixo nível de escolaridade, é maioria inserida no cadastro único do governo federal e, consequentemente, maioria beneficiária dos programas de transferência de renda, entre outras estáticas. Portanto, para o/a assistente social é compromisso ético-político abordar o tema racismo no atendimento à população usuária.
“Todos esses dados apresentados são reflexos da nossa cultura racista e escravocrata. Por isso, temos que dialogar com a população acerca do racismo, no sentido de desmistificar o mito da democracia racial cotidianamente reproduzido; de fazer junto com as pessoas uma reflexão crítica para percepção do racismo institucional; de desnaturalização das situações de discriminação racial diuturnamente reproduzidas. Esse é o compromisso de uma categoria que combate a desigualdade social, que combate preconceitos. Até mesmo porque o racismo é estruturante do capitalismo”, enfatiza Tales. Ele destaca também a potencialidade da dimensão educativa do trabalho do/a assistente social, contribuindo para organização política desta população e para o levantamento de dados e de demandas para construção de políticas públicas.
Em sua avaliação sobre a campanha do Conjunto CFESS-CRESS, Tales afirma que a mesma ocorre num momento necessário para se fazer enfrentamento a uma conjuntura de intensificação dos discursos de ódio e ataques à população trabalhadora, sobretudo a negra. “Vivemos uma conjuntura horrenda, de retrocessos inomináveis e imensuráveis que quem pagará a conta, mais uma vez e de forma mais brutal e perversa, são os pobres, negros/as, trabalhadores/as, mulheres, LGBT, população do campo etc. Discursos conservadores, racistas, preconceituosos e retrógrados, infelizmente, não estão distantes da profissão. Assim, a campanha Assistentes Sociais no Combate ao Racismo, além de colocar esta temática na centralidade dos debates é, antes de tudo, uma campanha que reforça e retoma o compromisso com a direção social da profissão, construída nas últimas décadas, calcada na tradição marxista, assentada em valores emancipatórios e libertários”, finaliza Tales Fornazier.
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A coordenadora da comissão de Comunicação reforça a importância de a categoria compartilhar suas experiências cotidianos de combate ao racismo. “Várias assistentes sociais trabalham cotidianamente com essa temática nos equipamentos de atendimento à população. Queremos dar visibilidade a essas ações e incentivar a promoção de outras atividades de combate ao racismo no cotidiano profissional”, completa. Os relatos enviados ganharão destaque em forma de painel, exposto no 16º Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), em novembro de 2019.
Visite o site e compartilhe sua experiência conosco!
Fonte: CFESS
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