Violência e resistência marcam a luta por direitos de quem vive no campo

Publicado em 01/08/2018

Grande violador dos direitos de quem vive na cidade, o capital é, também, o principal inimigo das populações do campo, sejam camponesas e camponeses, indígenas ou quilombolas. Historicamente, a defesa dos interesses dos latifundiários e do agronegócio tem predominado sobre a garantia dos direitos de quem depende da terra para sobreviver. A favor dessa hegemonia, está a bancada ruralista e a grande mídia, que, ao mesmo tempo que fortalecem a ação dos poderosos, tentam enfraquecer os movimentos sociais de luta pela terra.

Uma das consequências dessa disputa desigual é a violência no campo, que tem crescido de forma alarmante. O relatório “Conflitos no Campo Brasil 2016” da Comissão Pastoral da Terra revela que, em relação a 2015, aumentaram todas as formas de violência no campo e todos os tipos de conflito, chegando aos maiores índices da última década. Em mais de 70% dos casos, a violência é protagonizada por fazendeiros, empresários e grileiros. Só em 2017, aconteceram três massacres no campo, um em Gamela (MA) contra povos indígenas, o massacre dos sem-terra em Colniza (MT) e a chacina contra posseiros em Pau d’arco (PA).

O crescimento da violência está diretamente relacionado ao golpe sofrido no país, em 2016, pelo governo ilegítimo de Michel Temer, como afirma Maria Alves de Souza, agricultora familiar, quilombola e dirigente sindical da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Fetaemg). “Há um alto índice de violência no campo, com um número assustador de mortes de lideranças e essa é, claramente, uma forma de acabar com a nossa organização política. O governo atual é desumano, quer exterminar não apenas as populações do campo, mas todas aquelas que vivem em situação de vulnerabilidade social.”

Moradora do Quilombo Santa Cruz, localizado no município de Ouro Verde de Minas (MG), Maria explica que a pauta das pessoas do campo está focada na garantia da permanência dos direitos à territorialidade e, no caso de indígenas e quilombolas, também aos direitos de serem reconhecidas como tais. Entretanto, pontua que isso só não basta e que os problemas vivenciados e as soluções para a resolução deles por parte do Estado deve ser vista de forma ampla e emancipatória nas zonas rurais. “Não estamos falando só do acesso à terra e à produção, mas, de acesso ao esporte, à cultura, ao lazer. Queremos que as pessoas do campo tenham, por exemplo, acesso ao ensino superior, mas sem precisar sair do campo”, comenta.

Diante de tantas demandas e com um cenário político nada favorável, a militante acredita que a resistência deve prevalecer e que este é o momento de juntar forças e focar, antes de mais nada, em estratégias para a retomada à democracia. “Há uma grande necessidade de continuarmos nos organizando, de não desistirmos da luta e de nos unirmos com outros movimentos sociais da cidade contra o retrocesso de direitos e contra a violência no campo”, alerta.

Poder midiático

As populações do campo, que incluem trabalhadoras e trabalhadores rurais, podendo essas pessoas serem, ainda, indígenas ou quilombolas, fazem parte das minorias tratadas com descaso pela grande mídia. Com o afã de reproduzir os interesses da elite brasileira, nesse caso, os latifundiários, os grandes meios de comunicação têm, sistematicamente, ao longo dos anos, tratado com descaso as pautas de quem vive nas zonas rurais. Por um lado, se invisibiliza a riqueza e diversidade cultural dos povos quilombolas, indígenas e campesinos em geral, e, por outro, se deslegitima questões caras a essas populações, tratando, por exemplo, a reforma agrária como uma espécie de roubo de terras ou criminalizando assentamentos e movimentos sociais de luta pela terra. Nesse cenário, aquelas pessoas que ocupam ou estão assentadas em algum terreno, são sempre tratadas como invasoras.

Para Maria, os meios de comunicação em massa escravizam o povo brasileiro para garantir que o controle do poder esteja na mão de quem for de seu interesse. “Nunca veremos a grande mídia abordar o que o campo tem de bom: os benefícios da agricultura familiar, da sustentabilidade, a cultura do nosso povo, nossa história de resistência ou mesmo a luta de quem sobrevive no semiárido, carregando todo dia uma bacia de água na cabeça para suprir suas necessidades básicas e mostrando, ainda, a necessidade de investimento nessas regiões”, destaca.

Considerando que a mídia é um forte aliado do capital, mas que também pode ser uma importante ferramenta contra-hegemônica, a militante diz que é importante considerar a imprensa alternativa, na qual se inclui a comunicação do CRESS-MG, como forma de fortalecer a luta no campo. “É preciso pensar em abordagens que foquem no reconhecimento das culturas locais, valorizando práticas ancestrais, mas, claro, potencializando-as para que, por exemplo, as práticas de opressão de gênero sejam superadas”.

A matéria integra o Boletim Conexão Geraes de Setembro e Outubro de 2017.

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