Com a palavra, as mulheres do movimento LGBT

Publicado em 28/06/2017

A sigla LGBT reúne segmentos da sociedade oprimidos por sua orientação sexual, como é o caso das lésbicas, gays e bissexuais, e também pela sua identidade de gênero, como acontece com as pessoas trans. No Brasil, a luta conjunta dessas cidadãs e cidadãos acontece desde a década de 1970, e não é sequer por direitos específicos, mas pela garantia de direitos básicos.

Nessa história, as mulheres do movimento acabam sendo duplamente oprimidas: primeiro por não se encaixarem no padrão cis-heteronormativo e, também, pelo machismo de cada dia. A luta pelo reconhecimento e visibilidade de suas demandas específicas, já foi pauta dentro da própria comunidade LGBT. Anteriormente chamada de GLTB, teve seu nome alterado após debates com as feministas que apontavam a necessidade de dar destaque a essa parcela do movimento. Outro ponto sintomático é o fato de a Parada do Orgulho LGBT ainda hoje ser vista apenas como Parada Gay.

Não se trata de disputar quem é a mais oprimida ou mais oprimido da história, mas, sim, de reconhecer e valorizar as particularidades de cada segmento do movimento. Além disso, existe a ideia de que as lésbicas são mais aceitas na sociedade que os gays, porém, é preciso entender que essa “aceitação” deriva de um fetiche que se tem sobre os corpos dessas mulheres, como alerta Juliana Paradela, militante do Movimento de Mulheres Olga Benário e da União da Juventude Rebelião.

A militante conta que, quando sai acompanhada de outra mulher, sempre é abordada por homens que sugerem participar, “entrar no meio”, de forma a hipersexualizar a vivência lésbica. “Quem diabos faria isso com um casal heterossexual? E situações semelhantes acontecem em festas, por exemplo, se você diz ‘não’ para um cara e explica que namora outra mulher, além da chance de agressão, vem o fetiche de querer ver as duas juntas”, comenta.

Assim como o restante da comunidade LGBT, as lésbicas sofrem discriminação, mas, por serem mulheres, as chances de serem vítimas de violência dobram. Isso sem considerar quando se somam, ainda, outras formas de opressão, como no caso de serem negras e/ou pobres. Juliana explica que existe uma modalidade de estupro, inclusive incentivada por alguns extremistas religiosos, que é o “estupro corretivo”: “Obriga-se a mulher lésbica a ‘transar’ com um homem para que ela ‘aprenda a gostar’, ‘aprenda como se faz’ e ‘saiba o que é sexo de verdade”.

Nesse cenário, o papel da militância é fundamental, como pontua Juliana. “Todos os direitos conquistados, nem falando só de movimento LGBT, foram frutos de muitas lutas travadas arduamente pela população. Vivemos em um sistema que se sustenta na base da exploração e no isolamento das pessoas, porque, se passamos a agir em coletivo, temos uma força enorme. Todas as pessoas que não concordam com as desigualdades sociais (sejam elas econômicas, políticas ou sexuais) devem militar, pois não adianta ver as coisas erradas e não fazer nada para mudar a realidade. (…) A denúncia das desigualdades e a construção de uma sociedade melhor é feita todos os dias”.

Sobre o que é, para ela, o orgulho LGBT, Juliana diz: “Significa subverter a posição que tentam nos colocar. Tentam nos jogar na vergonha, no medo, no isolamento, na subalternidade. Acredito que o orgulho é uma expressão da nossa consciência de qual é o lugar que tentam nos colocar e da nossa inconformidade com isso. Seguiremos em luta, sem ter vergonha de sermos quem somos, sem medo, nos organizando e não aceitando a subalternidade”.

Travartista – transexualidade e arte

Não bastassem os conflitos pessoais que uma pessoa trans tem por não se identificar com o gênero que lhe foi atribuído no nascimento, elas ainda são condenadas a uma vida repleta de discriminação. O Brasil lidera, vergonhosamente, o ranking como o país que mais mata travestis, mulheres e homens trans. Diferente de lésbicas, gays e bissexuais, as pessoas trans exibem, no seu físico, o que as fazem serem vistas como pessoas fora do padrão. Isso leva, também, à dificuldade de arranjar emprego, principalmente entre as travestis e mulheres trans, que muitas vezes acabam sendo levadas a se prostituírem.

Mas se a transfobia acontece de forma diversa, diversas também são as formas de resistência. Através da arte, a artista plástica Babi Macedo retrata as dores e as delícias das vivências trans e travesti. “Minha arte sou eu. As pessoas que protagonizam meus desenhos, minhas pesquisas sobre arte, são as pessoas trans, em todas suas diversificações: periféricas, em situação de rua, de melhor condição financeira, etc. Eu não consigo separar minha arte da minha vida pessoal porque é pela arte que me expresso, que questiono. É tudo muito visceral”.

Sem se associar a nenhum grupo LGBT, Babi se considera uma militante independente e acredita que a arte é um fator potencializador de mudanças. “A arte tem o poder de questionar, de provocar uma reflexão acerca do mundo. Então, a partir do momento que as pessoas entram numa exposição minha e começam a se questionar sobre aquelas pessoas, aqueles corpos, aquelas vidas (e porque elas são ceifadas a troco de nada), a arte já está cumprindo um papel de combater o preconceito. E quando uma pessoa trans se vê retrata como é e não como um experimento caricato social, elas se sentem empoderadas”.

Para a artista plástica, o orgulho LGBT é “Orgulho de ser quem é. De resistir, principalmente em países como o Brasil, que tem índices altíssimos de violência contra LGBTs. Eu, quando me afirmo uma travesti e digo que tenho orgulho disso, estou reiterando que sou uma sobrevivente, como todas as outras, e se isso não é motivo de orgulho, então não sei o que é”, salienta.

O trabalho de Babi Macedo pode ser visto em sua página do Facebook, Travartista. Confira!

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