Assistente social fala sobre Massacre de Felisburgo

Publicado em 20/11/2012

O Acampamento Terra Prometida, localizado na cidade de Felisburgo, no Vale do Jequitinhonha, surgiu em 2002, como fruto da má distribuição de terras no país. No local, viviam cerca de 200 famílias, que buscavam num pedaço de terra, poder plantar e colher sua dignidade.
 
Há exatamente oito anos, essas pessoas foram surpreendidas por 18 pistoleiros que invadiram o terreno, disparando rajadas de bala e ateando fogo nas barracas, lavouras e pequenas construções.

O episódio que ficou conhecido como Massacre de Felisburgo, deixou cinco mortos, vinte feridos, e um lastro de destruição e desolação no local. 

Neste ano de 2012, mais do que nunca, faz-se necessário manter viva a lembrança dessa tragédia, visto que o mandante desse crime, o fazendeiro Adriano Chafick Luedy, será julgado em janeiro de 2013, em Belo Horizonte.

Sobre o assunto, o CRESS-MG conversou com a assistente social e integrante do Comitê Justiça para Felisburgo, Maria José Brant. 

Do que se trata e quais os objetivos do Comitê Justiça para Felisburgo?
 
O Comitê foi criado, em outubro, por meio de uma iniciativa dos moradores da Terra Prometida em conjunto com diversas entidades e movimentos sociais, como a Fundação de Ajuda Solidária Filhas de Jesus (Fasfi), na qual faço parte da coordenação, como voluntária. 

O seu objetivo é dar visibilidade ao massacre e garantir que a justiça seja feita aos familiares daqueles que foram assassinados, e em relação aos que ainda vivem no acampamento. A cada dia, o Comitê tem ganhado novos adeptos, o que fortalece bastante a defesa dessa causa.

Em plenária realizada no dia 21 de setembro, discutimos algumas ações, baseadas em algumas datas, para orientar essa mobilização ampliada. As datas são: 20 de novembro, que marca os 8 anos do massacre e que coincide com o dia da Consciência Negra; 10 de dezembro, que celebra o Dia Mundial dos Direitos Humanos; e 17 de janeiro de 2013, dia marcado para ocorrer, em Belo Horizonte, o julgamento do mandante do massacre e dos pistoleiros envolvidos.

Por que relembrar o Massacre de Felisburgo?

Na verdade, penso que mais do que relembrar, nosso empenho é que esse crime, tal como outros assassinatos cometidos em função de conflitos agrários, não sejam jamais esquecidos. Os responsáveis pelo Massacre de Felisburgo, ocorrido em 2004, por exemplo, continuam impunes. Entretanto, lembrar o fato contribui para que, mais cedo ou mais tarde, os culpados sejam condenados.

Sendo assim, não esqueçamos tampouco do assassinato dos quatro fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, em 2004, no episódio conhecido como Chacina de Unaí; da Irmã Dorothy, que foi morta em 2005, no Pará, por conta de seu ativismo a favor dos camponeses; do ativista ambiental Chico Mendes e de tantos outros heróis dos conflitos agrários no Brasil. 

Então seria isso: Não esquecer jamais, pois, sabemos que a verdadeira justiça só se dará com a conquista definitiva da terra!

Há muitas ocupações de terra no Brasil, mas em Felisburgo isso chegou às últimas consequências. Por quê?

A situação de Felisburgo nos remete à colonização europeia, às origens do latifúndio, à história do coronelismo, à violenta disputa de terras, à força da grana, aos interesses do dito agronegócio, à impunidade e à sempre adiada reforma agrária. Esses aspectos são uma combinação de elementos explosivos que encontrou no Massacre de Felisburgo, uma das suas traduções mais perversas.

Em que situação se encontram as famílias que ainda residem no local?

Há, entre os sobreviventes, uma mistura de sentimentos das tristes lembranças do dia do massacre e da tensa convivência com os grileiros e os pistoleiros envolvidos no episódio, como nos informaram as voluntárias da Fasfi e a arte-educadora Solange Reis, que lá estiveram.

Em meio a tudo isso, percebe-se, em cada um dos moradores do Terra Prometida, um olhar de esperança e cidadania que é expresso pela luta diária para construir um futuro melhor. Enfim, são fortes recordações que desafiam e encorajam a todos que lá permanecem.

Como os assistentes sociais podem atuar em situações de ocupação como essa? 

Acredito que a situação no campo, a reforma agrária, a (in)justiça , os crimes ambientais e as “grilagens” de terra são situações que devem fazer parte do repertório do assistente social, despertando nossa consciência para essa realidade que, muitas vezes, não chega ao conhecimento dos cidadãos que vivem na cidade. 

A lógica da participação e da contribuição, seja profissional ou cidadã, deve estar pautada na defesa incondicional da vida onde ela estiver ameaçada. Em nosso exercício profissional relacionado ao direito à terra, do ponto de vista socioambiental, cabe-nos um zelo a mais: Nunca perder de vista a perspectiva histórica, pois, senão perdemos nossa capacidade de contribuir para reverter a realidade desses trabalhadores.

Uma das lideranças que sobreviveu ao massacre, Jorge Batista, resume com sabedoria e simplicidade a problemática: “Nós não queremos guerra. Queremos só terra, pois plantar nós já sabemos".

Imagem: Movimento Terra e Justiça

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